Contrariando a lógica popular, quanto mais você gosta de uma banda, mais difícil se torna falar sobre ela. Apesar disso, resolvi assumir o desafio de falar sobre "Hydra", novo álbum do WITHIN TEMPTATION que seguindo a alma do seu antecessor, é um novo divisor de águas na carreira da banda.

O rompimento com o passado sinfônico clássico já não é mais novidade. Embora tenha sido arriscada, a decisão abriu espaço para outros elementos que renovaram o som, sem esquecer de passar uma mensagem consciente para o ouvinte. Os mais atentos vão notar que até mesmo as tão cobradas orquestrações ainda estão presentes, mas em um estilo diferente do habitual.

Dentre todas as mudanças, o peso das guitarras é o que mais chama a minha atenção. Ele vem crescendo desde The Heart of Everything e em Hydra alcança o máximo, pois finalmente coloca os três guitarristas tocando juntos, dando ao som famoso por ser bombástico e cativante uma dimensão completamente diferente, mostrando que o grupo está trabalhando mais sério do que nunca.

A repetição dos títulos nas letras das músicas é excessiva e as vezes cansa um pouco, mas isso ajuda elas a grudarem na cabeça mais facilmente, sobretudo por serem embaladas pela vocal de Sharon den Adel, que abraçou timbres mais graves e ainda assim manteve o brilho da sua interpretação.


Now it's time to face all of us

Hydra é um quebra cabeça de referências da história do Within Temptation, embrulhado em papel moderno e de qualidade. Parte do impacto do disco se deve aos cinco duetos, criando atmosferas diferentes entre si, mexendo com os sentimentos e tornando o play épico de maneira bem particular.

"Dangerous" é das faixas mais pesadas. Howard Jones, ex-vocalista do Killswitch Engage faz a sua famosa interpretação emocional, deixando o som aventureiro, do tipo tudo ou nada, uma vibe que combina bastante com a letra. "Paradise (What About Us?)" tem mensagem nobre, clipe muito bem produzido e a voz de Tarja Turunen fazendo um dueto histórico.

"Whole World Is Watching" tem a marca Within de compor baladas: leve e delicada, ganhou duas versões com dois vocalistas e fato gerou algum protesto, dividiu opiniões com o vídeo, mas não perdeu o valor. Falando por mim, prefiro o dueto com Piotr Rogucki.

"And We Run", ganharia facilmente um texto separado, mas vou falar da parceria com o rapper Xzibit mais à frente nos destaques.


Destaques

Silver Moonlight
Sua melodia contagiante é uma referência instantânea a Iron do álbum "The Unforgiving", e em parte a See Who I am do álbum "The Silent Force". Silver Moonlight é daquelas faixas pra pular e extravasar a energia, principalmente por usar os guturais do guitarrista Robert Westerholt, elemento agressivo ausente desde muito tempo;

Dog Days
Apesar de pisar no freio, não se engane: a música é tão intensa quanto as outras. Com um refrão pomposo, Dog Days remete à The Promisse do álbum "Mother Earth", e uma das músicas que eu mais gosto. Em Dog Days o trunfo é Sharon e sua interpretação cheia de fôlego, cujo ápice acontece nos últimos 20 segundos da música, surpreendentes até para os mais céticos;

And We Run*
O feat que eu mais queria ouvir não desapontou. And We Run é moderna, ousada, uma montanha russa de sensações. Apesar terem questionado as chances de a parceria com o rapper americano funcionar, o resultado superou até as ditas expectativas negativas. Xzibit tem a voz forte e faz um contraste de bom gosto com Sharon, e todos juntos com as guitarras criam um clima apocalíptico irresistível.

* faixa favorita


Conclusão

Não é fácil decidir que caminho seguir após quinze anos de carreira. Algumas bandas podem estacionar no lugar conhecido. Outras podem simplesmente ficar cansadas e terminar. Outras, perdidas entre essas duas primeiras opções, apostam as fichas em um começo do fim, expressão que define bastante o Hydra.

Com o nível de referências aos discos passados, parece que estamos vendo o fim da carreira da banda. Ou seria o fim da carreira como conhecíamos até então? Fica a reflexão. O álbum é um excelente cartão de visitas para quem não conhece o que o grupo pode fazer, por isso não tenho medo de recomendar como o primeiro álbum para os novatos ouvirem.



Formação

Sharon den Adel - vocais
Robert Westerholt - guitarra, guturais na faixas 6 e 9
Ruud Jolie - guitarra
Martijn Spierenburg - teclados
Jeroen van Veen - baixo
Mike Coolen - bateria
Stefan Helleblad - guitarra adicional


Tracklist