Eu sei que o nosso foco é musical. Mas já demos as nossas escapadas e falamos de games, cinema, cultura pop, sendo assim é impossível não abrir espaço no blog e pagar ti bruto a uma das lendas da cultura popular latino americana: Roberto Gómez Bolaños.

Crianças brasileiras dos anos 90 o conhecem muito bem, apesar de o seu trabalho estar na TV mais ou menos desde 1970, sem pausas. Chespirito (versão espanhola de "Pequeno Shakespeare"), cursou engenharia elétrica na Universidade Nacional e Autônima do México (UNAM), mas nunca trabalhou na profissão. (graças aos céus) Ao invés disso, trabalhou com redação publicitária e aos 20 já escrevia roteiros para televisão.


Quando entrou para as artes cênicas, Bolaños criou caras, tornou-se a cara de algumas dessas caras, dando início a um legado que dificilmente vamos ver igual. E um legado foda, você vai concordar. Chaves, Doutor Chapatin, Chapolin, Chaparrón Bonaparte e Chómpiras são alguns dos que entraram nas casas de milhões, embalaram infâncias, divertiram, uniram famílias e até conseguiram emocionar.

Não sou exatamente uma ultra fã hardcore de Chaves ou Chapolin. Entretanto, seria loucura minha negar que bem antes dos celulares ultra modernos, da TV a cabo, ou dos computadores mais simples chegarem ao Brasil, foram eles que me acompanharam durante as manhãs e tardes da programação do SBT, proporcionando horas de diversão sadia e genuína.

O humor do seu trabalho é único. Usa uma fórmula que conquista, porém impossível de se entender e se repetir. E não tem roteiros ultra elaborados, deixando na vergonha muitos programas da atualidade, principalmente os de "humor", tão apelativos e tendenciosos. Efeitos especiais? Esqueça, até porque na época isso era um sonho pra'lém de distante. Ao invés disso o universo criado gira em torno da simplicidade, do cotidiano, da estupidez, sim, todos mostrados de forma humana e muito carismática.


Essa fórmula misteriosa manteve e mantém seus programas vivos por décadas, sem ter um episódio inédito gravado. Aos 6 anos você assistiu a discussão sobre pedras e aerolitos, e riu. Aos 12 assistiu de novo, e riu mais uma vez. Assim foi aos 20, 25, seja qual for a sua idade hoje. Quantos programas gastam tudo atrás de conseguir o mesmo sucesso e não, ou às vezes, nunca conseguem? Bastante.

Tenho a certeza que um dos fatores de sucesso do legado de Chespirito é o que eu mais sinto falta na vida, não só na televisão: a espontaneidade. Chaves não quer defender nenhuma causa, Chapolin não nasceu para fazer críticas, provocar efeito específico no telespectador, sem "shock value". Nada foi criado para forçar o telespectador a rir. Ao invés disso o riso é natural, consequência.

Dica: assista o episódio Don Juan Tenório e adicione muitas risadas a gosto.


Gosto de todos os personagens, mas acho que o Chapolin é o que eu mais gosto. Não tem inteligência, e ainda assim derrotou a força bruta. Essa semana vi na TBS o episódio dos gêmeos dançarinos, episódio que eu esqueci que existia, e mesmo Chapolin eu não via há uma pequena eternidade. Me senti com 9, 10 anos de novo.

O homem se vai, mas I believe that after we're gone, the spirit carries on. Injusto, pois o mundo precisava dele pelos menos mais uns 500 anos.