Saudades, After Forever.
Em abril eu li um artigo no qual a Floor Jansen expressou a opinião sobre o termo "female fronted", concluiundo com um pedido às pessoas parar deixarem de se referir às bandas pelo dito cujo. Isso me deixou com uma tonelada de sentimentos divididos, mas eu ignorei, porque é o que eu faço com tudo relacionado ao Nightwish. Hoje pela manhã, entretanto, o Loudwire soltou uma entrevista com o Amaranthe, e a vocalista Elize Ryd jogou outra luz no assunto.

E essa luz condiz muito mais com o que eu penso. Sendo assim, resgatei a ideia do limbo do esquecimento.

*respira fundo e arregaça as mangas*

Primeiro, a resposta da Elize à pergunta sobre "se é tempo do 'female fronted' deixar de ser um grande assunto para as bandas":

Eu acho que foi ruim. [quando o vocalista Jake E diz que Floor deu "a melhor declaração de sempre"] Porque costumava ser apenas homens nisso e as pessoas querem saber se é liderado por uma mulher. [nos vocais] Isso é uma coisa boa. Você pode pesquisar por isso e encontrar essas bandas e se nós escolhemos não [estar dentro do rótulo], então as pessoas não vão nos encontrar se pesquisarem essa palavra. Mas isso não significa que tem que ser uma palavra ruim, o que parece que agora Floor Jansen está dizendo de uma forma negativa. Para mim, como mulher, cantora e uma das 'figuras-de-frente', é um pouco chato. [dá a entender que é a declaração da Floor]

As pessoas talvez não vejam como um gênero, eles veem mais como um jeito fácil. Female fronted - é uma cantora ou não?  Eu não penso sobre a música sinfônica quando penso no female fronted. Eu vi Nightwish, Delain e os Marmozets, eu os amo.
A Elize está certa. Muito. Já falei sobre o assunto milhões de vezes, e não vou parar de usar o termo: foi o female fronted metal que me "converteu" ao metal. Foram bandas como Nightwish, Evanescence, Within Temptation, e mais a frente Delain e Epica que chamaram a minha atenção. Adorei ver mulheres relevantes num gênero "dos homens", e saber que existia uma definição para essa fatia do metal me:

- Deixou muito feliz (1);
- Salvou em horas de pesquisa (2);

Você conhece alguém assim. Aposto. Mesmo que seja você.
O problema não é o termo
É COMO as pessoas encaram ele, de forma ignorante e preconceituosa. Também me decepciona ler a declaração da Floor, porque foi graças ao termo que ela hoje critica (com alguma razão, sim), que eu conheci o After Forever. Eu entendo o ponto dela: é errado se referir ao female fronted como gênero musical, pois ele não é. Se fosse o caso, dentro do mesmo gênero você colocaria:
  • ABBA
  • Florence + The Machine
  • Paramore
  • Arkona
  • Cadaveria
  • Lasgo
  • Nightwish
  • Spice Girls
  • Amaranthe

Reparou a confusão? O detalhe é que, culturalmente, outros gêneros musicais são mais inclusivos. É só ver o pop/dance e as suas variações: Lady Gaga e Skrillex, M.I.A. e Calvin Harris, Céline Dion e Tiziano Ferro, Robyn e Kayne West. No passado foram Michael Jackson e Cyndi Lauper, Pet Shop Boys e MadonnaEurythmics e Peter Cetera. Entretanto, o heavy metal sempre foi menos inclusivo.

Doro Pesch foi uma das primeiras a abrir o caminho. Imagina o peso de dizer em 1985 que o Warlock era não só uma banda de metal, mas uma banda female fronted? Imagina o peso de dizer que o Warlock era somente uma banda de metal?

Os anos passaram, isso mudou bastante, e hoje, mesmo com machismo que existe (de homens e mulheres), é mais fácil achar bandas de metal com mulheres nos vocais. Como exemplo recente tem o Halestorm, novo xodó da galera. Eu entendo que a definição perdeu parte da força porque graças a Deus, não vivemos mais o tempo que a Doro viveu. Hoje o preconceito está na casa dos 50%, eu acho.

Só que totalmente inútil o termo não é.

Uma bússola para desbravar a internet
Na Metal Archives -a Wikipédia metalhead- você acha bandas famosas, underground, com homens e mulheres na voz. Mas, se você quiser achar especificamente uma banda com vocalista mulher... Tire o cavalo da chuva. Nem a pesquisa avançada oferece essa opção. Agora, se você acessa o Metaladies, dá para descobrir várias bandas com vocal feminino.

Indo na Last.fm, o peso do rótulo aumenta. Arch Enemy e Dark Tranquillity são bandas de death melódico, Tristania e Paradise Lost de metal gótico, Sonata Arctica e Tarja de sinfônico, mas imaginar juntar tudo na mesma tag? Sim, o site faz isso, mas ele oferece a tag female fronted metal, por isso as pesquisas e a organização agradecem.

Esse é o ponto que a Elize ressalta, que eu digo, mas que muita gente não entende.

Sem esse termo eu nunca teria descoberto várias bandas: Therion, Xandria, Haggard, Nemesea, Lacrimosa, Flowing Tears, Walls of Jericho, Draconian, Elysiun, Cruficied Barbara, Kobra And The Lotus (...) O que eu dou razão ao guitarrista Olof é que muita, muita gente ainda em 2015 associa o female fronted metal exclusivamente ao metal sinfônico.

Ou ao Evanescence.
Parece até um De volta à 2004.

Tranquila que nem Maguila
A minha consciência está tranquila
Isso não é minha culpa. Eu vivo dizendo que as pessoas precisam enxergar fora da caixinha. Veja o Arch Enemy, que só agora foi "incluído no female fronted" com a vinda da Alissa, quando a Angela Gossow era vocalista há anos. Pare e pense: você conhece a Sabina Classen do Holy Moses? Então. Muitas pessoas alienaram o rótulo, odiando ou amando imediatamente banda X ou Y sem saber se ela é boa ou ruim.

Isso é péssimo, mas também não é minha culpa. Desde o começo eu sempre me pensei: Bom, se existe esse tal 'female fronted metal', que eu bem entendo dizer 'bandas de metal com mulheres vocalistas', por que a maioria é de metal sinfônico? Hm? Até as bandas reforçam a alienação ao seguirem a rota do surrado metal sinfônico. (digo mais as iniciantes)

Muito disso vem da maior característica do metal: a diversidade. Existem bandas com tantos sons, ora parecidos, ora diferentes, que nós, metalheads, sentimos a necessidade sexual espiritual de rotular tudo: sinfônico, progressivo, death melódico, brutal death metal, black metal, unblack metal, djent, metalcore, hardcore, rapcore, deathcore, avant-garde, thrash, groove, math metal (cuma?), visual kei..

.. E bem lembrado. Eu vejo o visual kei da mesma forma: é um rótulo com peso cultural. Porque se o X Japan na verdade é progressivo e às vezes sinfônico/power. O Versailles era super sinfônico e neoclássico, às vezes lembrava demais o Angra. Só que ambas as bandas fizeram história por serem bandas de metal, japonesas, que quebraram regras de gênero através do visual.

Quando eu quero uma banda com mulher no vocal, procuro sobre female fronted metal.
Quando eu quero uma banda japonesa que destaque a aparência dos artistas, procuro sobre visual kei. 
Independente de quem é prog, death, thrash.
Isso eu vejo depois.

Pois sim.
Metal: gênero rico, fãs (e músicos) complicados
A diversidade no metal é tão grande que nós criamos essas 50 milhões de tags, onde a maioria é inútil ou confusa. E não, não sou contra as tags. Gosto delas e valorizo elas. Sou contra o quem se importa o que é, importa é que é música pesada. Na verdade eu acho essa ideia até um pouquinho ofensiva. 

Veja.

O Dream Theater dedicou anos ao metal progressivo, é mestre em estruturas músicas complicadas. O Lamb of God dedicou anos ao groove metal, é mestre nas músicas com o balanço típico do groove metal. Cada banda teve e têm influências que marcaram a carreira, ajudaram a construir uma vertente, então eu vou joga tudo isso pela janela ao chamar todo mundo de "metal"?

Ouvir a Floor dizer que "não importa quem canta" é meio frustrante. Talvez não para os músicos, mas para os fãs, importa. Se um dia eu gostei do After Forever e do ReVamp foi porque ela cantava, ela fazia guturais, ela era dona de um alcance vocal incrível. Se um dia eu gostei do Scorpions, é porque eu gostei (e gosto) da voz única do Klaus Meine.

Bom senso. Essa é a chave. Concordo quando ela que os fãs devem parar chamar as bandas de female fronted. Musicalmente. Digo e repito, o peso do rótulo é cultural, destacando a entrada e a presença das mulheres no metal, e que hoje em dia salva a vida no mar de informação da internet. 

Então não, Floor Jansen, o termo "female fronted" não deve acabar.
O que deve acabar é a forma como as pessoas encaram ele.