HMBR: Vamos começar com uma pergunta de aquecimento: qual é a origem do nome "Shadowside"?
Dani: Shadowside é tudo que está oculto em todas as pessoas. Todo mundo tem um "shadowside", que não necessariamente é o lado ruim. O "bad boy" tenta esconder que tem sentimentos, enquanto os bonzinhos sempre escondem alguns pensamentos maldosos de vez em quando. Nós somos esse lado, então estamos em todo lugar (risos). Essa será a temática do disco novo, também. Vamos trazer para a luz tudo que as pessoas gostam de esconder. Medos, pensamentos, desvios de personalidade, além das coisas boas que são vistas como fraquezas.
HMBR: Um ano após o lançamento do Dare to Dream, e a Shadowside tornou-se uma espécie de xodó do metal nacional. De que maneira o reconhecimento e até mesmo críticas recebidas estão se refletido no estado de espírito da banda?
Dani: Gostei dessa coisa de xodó (risos). Nós temos um carinho muito especial pelo nosso público caseiro também, afinal eu sinto que a banda foi muito bem aceita e apoiada por aqui muito antes de traçarmos qualquer caminho internacional. Nós sempre agradecemos todo o reconhecimento, as críticas boas e ruins, porém nós procuramos manter a cabeça no lugar. Se você começa a seguir elogios e críticas para fazer o seu trabalho, você não sai mais do lugar... não evolui, não tenta e perde o rumo.Um exemplo disso é quando alguém me diz para nunca mudar meu estilo de cantar, mas outra pessoa diz que eu deveria cantar como todas as outras mulheres dentro do Metal. Quem você escuta? (risos) Então, nós apenas fazemos o que gostamos, ficamos felizes por todo o apoio e reconhecimento ao nosso trabalho, o astral dentro da banda é maravilhoso e tudo que está acontecendo conosco é animador, mas não olhamos para nós mesmos ou para nossa música de forma diferente. Nosso único objetivo é sempre lançar um trabalho melhor que o anterior e crescer como músicos.
HMBR: Não há dúvidas de que o seu vocal rompe positivamente com as expectativas. Entretanto, outra característica sua que me chama a atenção é a atenção dedicada aos fãs através da internet, seja através das respostas no Formspring, mantendo contato pelo Twitter ou Orkut. Mas saindo da grande rede, como é o relacionamento da Dani Nolden com eles?
Dani: Isso é algo engraçado... acho que as pessoas tem medo de mim pessoalmente (risos). Muitas vezes ficam olhando de longe e depois me dizem na internet "vi você, queria falar oi mas fiquei com vergonha". Eu não mordo (risos). Gosto do contato com o público, sempre que me é permitido, eu saio para conversar com eles depois do show. Não faz muito tempo que eu estava lá no meio com eles, batendo cabeça nos shows das minhas bandas favoritas.São os fãs que me permitem trabalhar com o que eu amo e viver um sonho que eu lutei muito para conseguir, então eles merecem essa atenção. Às vezes, não dá para responder a todos os e-mails, especialmente quando estamos ocupados em estúdio ou em turnê, mas todos eles são lidos por mim mesma e não por algum intermediário.
HMBR: A música desde muito tempo é comercial, pois fica difícil imaginar que pessoas feito vocês da Shadowside invistam tempo e dinheiro para não obter nenhum retorno financeiro. O grande detalhe, porém, é a prioridade que bandas e cantores dão para suas carreiras: fazer dinheiro ou fazer música. Existe um meio de lidar com isso?
Dani: Sim... mas você precisa saber quais são seus objetivos e prioridades. Nós trabalhamos durante dois anos com um manager que tinha um objetivo bem diferente do nosso. Ele queria nos deixar um pouco mais "adaptados" ao mercado mainstream e deixar que gravadoras tivessem direito de interferir nas decisões artísticas. Enfim, a ideia real era fazer a banda assinar com alguma major e ser o próximo Evanescence, porém nós seríamos apenas marionetes e não teríamos poder algum sobre a direção musical da banda.Então, depois de muita conversa, nós decidimos que preferimos ter como alvo ser uma grande banda dentro do underground, fazendo a música do nosso jeito e se dermos a sorte de despertar o interesse de uma major assim mesmo, ótimo. Se não, estaremos satisfeitos. E ainda é possível viver de forma confortável do underground... veja que bandas que vendem 300, 400, 500 mil discos ainda são consideradas underground, você apenas não vai ficar milionário.Pode dar a sorte de ficar, mas não deve ser um objetivo de vida se a arte vem em primeiro plano para você. Não há algo errado com qualquer uma das opções, cada um sabe o que quer para a sua própria banda, é apenas necessário saber o que você está buscando. É possível sobreviver e viver de música das duas formas, porém os dois objetivos não são fáceis de alcançar. De qualquer maneira é necessário muito sacrifício e dedicação.
HMBR: Quando não está trabalhando com música, o que você gosta de fazer? Costuma sair como "civil" pelas ruas de Santos?
Dani: Sim, Santos é uma cidade acostumada a artistas e atletas famosos, aqui ninguém liga para ninguém, ainda menos para uma cantora de Metal como eu (risos). Vou ao cinema, pratico esportes, vou ao shopping tomar um sorvete. Não vou me privar do que gosto, nem se virar "rockstar" (risos). Hoje fui às compras atrás de roupas de neve para aguentar o inverno escandinavo. Minha vida é normal por aqui. Em casa gosto de ler livros, jogar videogame, passar tempo com a família e meus animais.
HMBR: Recentemente, vimos os fãs do Bon Jovi "elegantemente constestar" a escolha de John para abrir um dos shows, pois a banda escolhida foi a Fresno. Vocês já tiveram alguma banda de estilo "core" ou já convidaram alguma para abrir um show?
Dani: Na verdade, nós nunca tivemos muito poder de escolha sobre quem abre nossos shows. Quando um promotor contrata o show, é ele quem escolhe quem vai abrir... em uma turnê mais longa como nossa última pelos Estados Unidos, quem tinha o poder de decisão era o agente, que colocou outra banda que ele representava para abrir. A única coisa que nós temos é poder de veto. Nem sempre conseguimos colocar uma banda que nós queremos, mas podemos falar "essa banda, não". Nunca precisamos fazer isso, mas temos a liberdade de dizer não para uma banda de caras que não são legais. Não sei como as coisas funcionam no Bon Jovi, mas essa parte de gerenciamento de bandas é uma coisa bem complicada. Normalmente, os músicos são os últimos que decidem alguma coisa.
HMBR: Rótulos podem significar uma barreira que impede as pessoas de ouvir determinada banda ou cantor. Mas os rótulos também ajudam a definir quais são as fontes de onde eles se inspiram, e quais mensagens querem passar. Ou seja, uma divisão entre música de qualidade inferior ou superior pode ser um tanto simplista. Qual é a sua opinião a respeito disso?
Dani: Um rótulo genérico, como Hard Rock, Heavy Metal e até alguns subgêneros como Power Metal são úteis, sim. É difícil descrever uma banda sem isso. Uma banda vai ser classificada dessa forma se compartilha elementos com outras bandas do mesmo estilo. Quando uma banda é tão inovadora que não se encaixa perfeitamente nos rótulos, vai levar algum tempo para as pessoas entenderem que eles não são "mais uma". Muitas pessoas não nos escutavam, no começo, porque viam uma mulher nos vocais e achavam que éramos mais uma banda sinfônica ou gótica. Mas conforme as pessoas passaram a falar sobre nós, eles descobriram que não era o caso e foram escutar. Precisa ter paciência pra fazer a sua mensagem e ideia chegar em todo mundo.
HMBR: Pergunta pessoal: você disse que adora Phil Collins. Eu (Bruna) também, é um dos nomes que eu mais admiro em toda a música. Você tem algum cd ou músicas favoritas dele?
Dani: Minha música favorita é Another Day in Paradise. Gosto dele tanto como cantor quanto como baterista.
HMBR: E não sei se você sabe, mas o Phil também passou pelo Genesis, banda no qual o Disturbed gravou uma das músicas mais famosas da banda britânica: Land of Confusion.
Dani: Sim, eu sei, eu passei a infância me divertindo com o vídeo de I Can't Dance (risos). E Disturbed é uma das minhas bandas modernas favoritas. As versões que eles fazem são fantásticas. Nunca me canso de Shout tocada por eles.
HMBR: Todo esse assunto me leva a perguntar sobre um tema clássico: o quão aberta ou não você acredita que a mente dos headbangers é musicalmente, principalmente nos dias atuais.
Dani: Pergunta complicada (risos). Acho que alguns headbangers gostam apenas de Heavy Metal e não tem algo errado com isso. Heavy Metal é bom mesmo (risos). Mas acho que a maioria é aberta a qualquer boa música.
HMBR: Em uma entrevista, você disse que trocou o futebol pelo heavy metal, e que se continuasse nos gramados, não teria o mesmo sucesso. Vendo o atual nível das Sereias da Vila, você já chegou a pensar que pode ter sido uma decisão equivocada?
Dani: Não, futebol feminino no Brasil ainda é algo extremamente precário. Nós não tínhamos coisa alguma na minha época e a situação não melhorou muito. Apenas recentemente, alguns clubes começaram a investir em preparação física adequada. Não tínhamos qualquer atendimento médico, se alguém se machucasse, não era problema do clube, ao menos não no time sub-17. E não existia qualquer perspectiva de melhora. Eu parei exatamente quando me machuquei durante uma pré-temporada.Comecei a pensar se tudo aquilo valia a pena, se eu gostava mais daquilo ou de música. A música acabou falando muito mais alto, então mesmo que eu tivesse largado uma Seleção Brasileira pela música, eu não teria me arrependido da decisão. Foi algo muito bem pensado e eu descobri que adoro futebol, mas como diversão apenas.
HMBR: Certa vez você foi questionada através do Formspring sobre como se sentia em ser um "Andre Matos de saia". Depois disso vi um vídeo onde você dividiu o palco com o cantor, interpretando um grande clássico do Judas Priest, Painkiller. Como foi essa experiência?
Dani: Foi interessantíssimo e inesperado! O convite inicialmente partiu do Luis Mariutti, porque ele havia visto nossa versão de Painkiller quando abrimos para o Nightwish. Como eles tocariam Painkiller naquela noite, nós obviamente não poderíamos tocar, então ele perguntou se eu queria cantar com eles. Quando eu disse que sim, ele ficou de conversar com o Andre e ver o que ele achava da ideia. Depois do nosso show, nós conversamos e ele reforçou o convite, disse para eu cantar a música toda que ele entraria em algumas partes.Achei ele uma pessoa extremamente simples, gentil e foi uma honra dividir o palco com ele daquela forma, afinal eu estava apenas começando, enquanto a carreira dele era uma inspiração para mim. Apesar de eu não ter influência musical dele, sempre o respeitei pelo talento e todas as conquistas dele. E o espaço que ele e o pessoal do Shaman nos deu naquele show foi algo muito generoso.
HMBR: Desde os tempos de Doro Pesch, uma das primeiras e poucas mulheres a estar envolvida com o heavy metal, muitas coisas mudaram e outras não no tocante a presença feminina nesse meio. Diga-nos o que você pode ver de velho e novo quanto a isso, em meados de quase 2011.
Dani: É difícil para mim dizer o que eu vejo de velho ou novo, porque eu não estava lá naquela época... nem como público, nem como cantora. Eu só posso observar que hoje existem muito mais mulheres envolvidas com Heavy Metal, assim como em várias outras áreas da música e outras profissões também. Eu não sei como tratavam as mulheres na música nos anos 80, mas acredito que as coisas eram mais complicadas do que são hoje. Honestamente, eu não acredito mais no preconceito contra a mulher. Nada mais é proibido para nós.Alguns homens podem não levar uma mulher a sério inicialmente, mas assim que ela mostra sua competência, ele fica sem escolha e tem que aceitá-la, respeitá-la. Não vou entrar na questão de profissões que pagam menos para uma mulher que para um homem, tenho minhas opiniões sobre isso, mas a ideia agora é sobre a música... e eu não vejo problema algum para mulheres no Heavy Metal hoje. Não aceito a posição de "coitadinha". Vou apanhar de muita mulher depois disso, mas não aceito mesmo (risos). Estamos no século 21. Como eu disse, nada é proibido, podemos escolher a carreira que quisermos. Existe uma meia dúzia que vai falar "não gosto de mulher em banda", mas a maioria desses deixa esse pensamento de lado quando escuta uma banda com mulher que tem um som que o agrada.Os poucos que continuam com a cabeça fechada são uma minoria tão insignificante que não fazem a menor diferença. No fundo, o que o fã quer é boa música. Ele pode não gostar de uma voz feminina e delicada, mas se ele gosta de vocal gutural, não faz a menor diferença para ele se no Arch Enemy tem uma mulher na banda ou não. É o mesmo que eu sinto com a Shadowside e comigo. Quem escuta minha voz e gosta, vai se importar apenas com isso. Se alguém escuta, gosta e fala que não vai continuar ouvindo, porque eu sou mulher, esse sujeito deve ter raiva ou trauma de mulher por algum motivo (risos). Se alguém fala uma bobagem para você, seja outro músico ou alguém do público que ainda não te conhece, você sobe no palco e dá a resposta lá.A única coisa que dificulta em uma banda com vocais femininos, é que dificilmente um festival vai colocar três ou quatro bandas que tenham uma frontwoman, mesmo que sejam bandas completamente diferentes. Mas vejo isso como algo contornável e não é impedimento de sucesso pra ninguém. Hoje, a presença feminina no meio musical, tanto como fãs quanto como profissionais da música é maior, porque como a mulher tem toda a liberdade que quer, ela pode explorar seus gostos musicais, suas opções de carreira, então é natural que apareçam cada vez mais interessadas em Heavy Metal.
HMBR: O heavy metal é complexo demais para ser analisado superficialmente. Certo ou errado? E me diga o porque de você pensar assim.
Dani: Essa pergunta me fez pensar bastante... na verdade, eu acho que Heavy Metal é visceral demais para ser analisado de qualquer forma que seja. Há alguns dias estávamos compondo, trabalhando na passagem instrumental de uma música... eu sugeri um riff para o Raphael, então ele começou a tocá-lo, modificá-lo... até que ele chegou a um acorde dissonante no final do riff que me deu vontade de quebrar alguma coisa, bater a cabeça na parede, bangear como louca (risos).Não me importou se era complexo, se era simples, era apenas 3 notas, mas que mexeram comigo imediatamente quando eu as ouvi tocadas. É assim que eu curto Heavy Metal. Não me importa se a banda é boa, se os músicos são técnicos e a teoria toda, apesar de eu ter estudado isso por algum tempo. A única coisa que me interessa na hora de ouvir uma música é se me faz sentir alguma coisa ou não.
HMBR: Além de fazer a Europa gritar juntamente com vocês nessa turnê com o W.A.S.P., quais são os próximos planos da Shadowside?
Dani: Logo após essa turnê com o W.A.S.P. vamos nos trancar no estúdio até meio de Janeiro para finalizar os últimos detalhes das novas músicas. Então, começamos a gravação na Suécia, ficaremos um ou dois meses por lá. O material está bem mais pesado, mais intenso, porém com muita melodia, energia, bem marcante, é o Dare to Dream crescido, adulto e ainda mais ousado. Logo depois, vamos começar a planejar as turnês no Brasil, América do Norte e Europa, ainda não sei sobre outros territórios. Mas com certeza não vamos ter férias em 2011.
Por fim, quero muito agradecer pela entrevista concedida ao blog HardMetal Brasil. Admiro muito a pessoa que você é, e por mostrar que segue fielmente a filosofia de "dare to dream", fazendo com que ela tenha ainda mais sentido. Mande uma mensagem aos nossos leitores, pois tenho certeza de que além de mim, eles estão felizes com todo esse sucesso. Saibam que se a Shadowside depender de apoio, não vai faltar. E claro, estamos aguardando o próximo CD, e o outro, e o outro..
Dani: Obrigada e "Dare to Dream" sempre! Corra atrás dos sonhos, porque sempre existe uma chance e mesmo que você não alcance todos os seus objetivos, com certeza você terminará em um lugar melhor do que onde você estava quando começou. Vamos levar a bandeira brasileira nessa turnê com o W.A.S.P. e quem sabe abrir caminho para outros artistas daqui. Um abraço a todos e obrigada pelo apoio!
1 Comentários
Eu sou azarado, nunca a vi elegatemente tomando uma casquinha do 'méqui' no shopping =\
ResponderExcluirDani deu muitas respostas interessantes e o legal, não fugiu da raia em nenhuma questã. Ano que vem teremos boas novidades pelo jeito :lol:
Deixe seu recado! Mas lembre que spams, ofensas e comentários anônimos não serão aprovados.