Na semana passada um caso sério causou e vem causando comoção na comunidade do metal: Phil Anselmo fez a enésima burrice na vida. Durante o Dimebash, tributo ao guitarrista Dimebag Darrell que foi realizado na última sexta-feira (29), o vocalista achou por bem gritar "poder branco", braço direito erguido, tudo como manda o figurino de um membro da Ku Klux Klan. Traduzindo: racismo. O fato acendeu um rastro de pólvora que eu estou adorando, pois vem levantando várias discussões muito boas. E é claro que eu vou pular dentro delas e trazer vocês comigo.
O heavy metal anda me cansando
Você tem visto que eu tenho dito sobre o cansaço que o heavy metal me deu em 2015, certo? Muito disso vem daí: o efeito colateral do meu envolvimento com uma das comunidades mais intolerantes e elitistas da música. A mania de muitos metalheads de se comportar como tr00zões as vezes até me dá vontade de rir, coisa que o Waka bem sabe porque ele já me acompanhou nessas risadas. É tão bobo e infantil que não caberia um estilo musical tão incrível como o heavy metal aceitar. Eu não consigo levar nada disso a sério.
Anos atrás eu via o metal como a luta contra os padrões, o abraço nos outsiders, o que pode ser até verdade, mas ao longo de cinco anos de site e de treze ouvindo música pesada, parece que isso se perdeu no meio do caminho, deu espaço ao elitismo e ao preconceito que já era bem enraizado, mas que agora dita regra naquele mundo que me fazia cantar "We Are The Metalheads" com tanto gosto. Hoje em dia dá até vergonha. É por isso que eu digo do cantinho mais profundo do meu coração:
Por favor, ouçam heavy metal, mas não sejam metalheads. Em 2012 eu dizia isso, em 2013 eu repeti. Essa vai ser uma das piores decisões da sua vida.
Sim! A forma na qual o heavy metal anda implodindo é ótima, pois abre espaço para a mudança, mas se os envolvidos não querem mudar, só vai gerar um monte de escombros inúteis. Meu estilo musical favorito acha que é normal demonstrar racismo, xenofobia, homofobia, intolerância religiosa, e isso me dá um medo enorme! Agora, em 2016, eu infelizmente concordo com as críticas que os meus pais fazem e que eu costumava rebater com tanta força. Agora ficou difícil defender.
Machismo
Venho batendo nessa tecla desde quando o HMBR era Hardmetal Brasil, e eu chamava o site de blog. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes. Tenho defendido as mulheres no metal desde sempre e assim vai ser até o dia ou que eu morrer, ou que o site acabar. E o HMBR não só segue firme e forte, como eu pretendo morrer bem velhinha, então vocês vão ter que me aturar por mais um tempo.
Em 2014 eu escrevi um texto sobre a Elize Ryd, vocalista do Amaranthe, que em entrevista a Metal Hammer falava sobre como é lidar com o sexismo/machismo no metal. Você pode ler ele completo aqui, pois eu quero focar nesses dois trechos:
Eu também leio comentários muito, muito desrespeitosos voltados a mim porque eu sou uma mulher, não porque sou uma artista como os outros rapazes, então tem uma diferença. Você não deve levar para o lado pessoal, mas é realmente difícil.
Eu me mantenho firme graças às críticas positivas que recebo e ao amor que recebo de muitos fãs. Graças a eles, me tornei mais e mais forte. Eu penso que é muito importante, na verdade, apontar as pessoas que são desrespeitosas porque você é uma mulher. Eu não tenho nenhuma paciência ou aceitação com isso.
E quando você pensa numa pessoa extremamente adorável feito a Elize, passando por coisas desse tipo.. Dá a sensação de que tem coisa errada na vida. Tem que dar. Precisa dar. Ou teria que dar. Leia a minha entrevista com ela, se apaixone comigo e entre no #SaveElize2k16.
O machismo fortemente enraizado no metal é a razão na qual eu nutro um desprezo que não cabe em mim pelo Nightwish, por exemplo. Ver duas vocalistas sendo demitidas em situações bem parecidas e horríveis, com fãs que ainda defendem as decisões dá, no mínimo, um nojo enorme de dizer que foi essa a banda que me trouxe para o heavy metal. Não dá para defender, eu não quero defender, e se você defende, passe longe de mim.
Recentemente a Cristina Scabbia, vocalista do Lacuna Coil também levantou essa bola. Nada novo sob o sol, infelizmente, mas ela foi bem feliz ao se expressar sobre o machismo e o elitismo ainda tão fortes. Outra que também entrou na roda foi Tarja Turunen, que na passagem pelo Brasil em 2015 ergueu uma bandeira que pedia o fim do machismo no metal.
Xenofobia
Ao meu ver é algo que acontece em menores proporções, mas que ainda assim são insistentes e que nós batemos na tecla desde o tempo de Hardmetal Brasil. Sempre criticamos o preconceito com as bandas que não cantam em inglês, e levantamos essa bandeira através da divulgação do rock e metal japonês sempre que possível. A dominação do X Japan (partes 1 e 2). Outros especiais. Ou quando não um pouquinho de coisas em espanhol.
Ou então a nossa mais antiga luta: contra o preconceito que leva as bandas daqui a irem lá para fora, e só então serem reconhecidas pela sua qualidade, ou pior, terem a sua falta de qualidade mascarada só porque fizeram turnê com um fulano famoso, quando a Europa ocidental, em matéria de tamanho e população, não equivale sequer ao sudeste brasileiro.
Homofobia
Um ponto deveras delicado. Mesmo em 2016 ainda circula o argumento de "aceitar Rob Halford" quando na verdade não é bem assim.. Ah, mas você não é cristã, Bruna? Sou. Só que eu mal tenho tempo para cuidar da minha vida -como eu canso de dizer- quiçá para policiar as escolhas sexuais dos outros.
Todo ser humano tem opinião e vidas diferentes, ninguém no mundo é 100% igual. Entretanto, quando a opinião e vida se baseiam em má educação, violência verbal, física, entre outras coisas, é estúpido e passou da hora de parar. Discordar é um direito, respeitar é uma obrigação.
Rob Halford só revelou ser homossexual em 1998, com quase 25 anos de carreira. Ele sabia, eu e você sabemos que se ele fizesse isso em qualquer momento anterior, sua vida na música e com o Judas Priest voaria pela janela na mesma hora, sendo arrasado tal como Gaahl (Gorgoroth) e Otep Shamaya (Otep), que se assumiram, respectivamente, gay e lésbica na última década e foram não só segregados, como sofreram até mesmo ameaças.
Fora aquela história da pessoa chamar uma banda de "gay" quando não gosta, o quando faz esse ou aquele tipo de som, menos pesado ou mais melódico. Quem acompanha, por exemplo, vertentes tais como metalcore, new metal, power metal e até o visual kei sabem essa história de cor e salteado. Sei por experiência própria. Isso quando os termos não são piores, o que só demonstra a resistência ao novo e diferente que muitos metalheads dizem não ter, mas que é muito enorme, forte e real. Justo em um estilo musical que é tão rico.
Intolerância religiosa
Deixei esse para o final porque é um item que me afeta de forma muito, muito pessoal mesmo. Você sabe porque eu não escondo mais: sou cristã. Mas por anos, anos da minha vida eu escondi isso das pessoas por ter sido alvo de preconceito. Não consigo processar uma pessoa que critica os erros da igreja (católica, protestante), das mortes que ela causou, mas que defende a luta contra isso com mais violência, tornando piada o "vamos queimar igrejas." Muito intelectual essa forma de resposta, não?
Não sou mente fechada. Por exemplo, em 2013 eu resenhei o Uniformity do Dark Tranquillity, um dos melhores álbuns desse ano e surpresa, os membros da banda são ateus. Ou ao menos o vocalista, Mikael Stanne, eu sei que é. E o Uniformity faz crítica forte a religião, que é um traço normal nas músicas do Dark Tranquillity, das quais eu gosto de várias. Entretanto, eles fazem isso de forma madura e adulta, que eu posso até não concordar sempre, mas que não tem como não respeitar.
Briga do black com o white metal. Briga do white com o white metal. Ainda há quem veja o heavy metal como "coisa do diabo", o que é longe de ser o caso. É possível ser cristão e ouvir música pesada? Totalmente, mesmo não sendo fácil. Existem aspectos dos dois universos (religião e heavy metal) que se completam na minha vida, e onde um não funciona o outro chega, e onde o outro não vai, tem o um para ir.
Então acredite se quiser
Na maioria do tempo eu checo a origem de cada release que nós recebemos. Vou atrás da origem e temas de cada banda e quando necessário, eu não posto. Às vezes não acho certas informações, então preciso confiar no meu sentido aranha e torcer. Motivo: nunca concordei com isso de "as opiniões postadas no site não refletem as dos seus editores." Para mim, é a maior mentira que você vai ouvir por aí. Aqui no HMBR tudo reflete a minha opinião e a do Waka, então jamais que eu divulgaria uma banda anti-religiosa, por exemplo.
Quando você diz que o conteúdo de um site não reflete a opinião do editor e deixa, por exemplo, passar um texto racista, das duas, uma: ou ele reflete sim, e o editor está se escondendo atrás dessa falácia, ou o site mostra apologia indireta a um comportamento X ou Y.
É por isso que certos assuntos não passam no HMBR. E se algum passou, seja meu ou do Waka, e não ficou legal, eu peço um milhão de desculpas, pois a gente se esforça. Vocês me conhecem. Não quero mudar meus textos antigos para deixas eles de reflexo de onde eu vim e onde cheguei, o quanto eu amadureci. Então é isso. Tenho uma política severa de divulgação: materiais de cunho intolerante com qualquer religião, homofóbicos, xenófobos, machistas, resumindo, desrespeitosos, nem me enviem, pois eu não vou divulgar.
Ah, mas com isso vocês vão perder muitas chances de crescer. Provavelmente. Só que eu prefiro crescer com a consciência limpa dos métodos que eu usei, e não de me gabar por ter "o maior site sobre rock e heavy metal do Brasil", mas cujo nível dos textos e dos comentários faz uma lixeira se sentir ofendida. Entende?
Nota de rodapé
Eu vi que o Phil Anselmo postou um vídeo de desculpas, sim. A questão é: não queria passar por isso, não fizesse, né? Não é questão de ser alvo do "politicamente correto" nem dos "guerreiros da justiça social", duas expressões usadas com tom ofensivo que eu odeio. É questão de sensibilidade. Tem coisa que não dá pra brincar, fazer trocadilho, cantar, escrever, pois são delicadas demais. Não é como o Sabaton que fala de guerras, mas com viés histórico, ou como o Powerwolf que fala de religião, porém inclinado para a fantasia e ironia.
Eu nunca me senti 100% ligada à "comunidade do metal", apesar das tentativas. Sempre achei certas opiniões e comportamentos bem trouxas. Claro, existe uma galera boa e que vai contra essas coisas, graças aos céus, mas ainda assim, ver um cara feito Robb Flynn, que junto do Machine Head ajudou a levantar o groove metal, um cara que eu gosto, dizer que "não se sente mais conectado à comunidade do metal"... É pra gente refletir.
Briga do black com o white metal. Briga do white com o white metal. Ainda há quem veja o heavy metal como "coisa do diabo", o que é longe de ser o caso. É possível ser cristão e ouvir música pesada? Totalmente, mesmo não sendo fácil. Existem aspectos dos dois universos (religião e heavy metal) que se completam na minha vida, e onde um não funciona o outro chega, e onde o outro não vai, tem o um para ir.
Então acredite se quiser
Na maioria do tempo eu checo a origem de cada release que nós recebemos. Vou atrás da origem e temas de cada banda e quando necessário, eu não posto. Às vezes não acho certas informações, então preciso confiar no meu sentido aranha e torcer. Motivo: nunca concordei com isso de "as opiniões postadas no site não refletem as dos seus editores." Para mim, é a maior mentira que você vai ouvir por aí. Aqui no HMBR tudo reflete a minha opinião e a do Waka, então jamais que eu divulgaria uma banda anti-religiosa, por exemplo.
Quando você diz que o conteúdo de um site não reflete a opinião do editor e deixa, por exemplo, passar um texto racista, das duas, uma: ou ele reflete sim, e o editor está se escondendo atrás dessa falácia, ou o site mostra apologia indireta a um comportamento X ou Y.
É por isso que certos assuntos não passam no HMBR. E se algum passou, seja meu ou do Waka, e não ficou legal, eu peço um milhão de desculpas, pois a gente se esforça. Vocês me conhecem. Não quero mudar meus textos antigos para deixas eles de reflexo de onde eu vim e onde cheguei, o quanto eu amadureci. Então é isso. Tenho uma política severa de divulgação: materiais de cunho intolerante com qualquer religião, homofóbicos, xenófobos, machistas, resumindo, desrespeitosos, nem me enviem, pois eu não vou divulgar.
Ah, mas com isso vocês vão perder muitas chances de crescer. Provavelmente. Só que eu prefiro crescer com a consciência limpa dos métodos que eu usei, e não de me gabar por ter "o maior site sobre rock e heavy metal do Brasil", mas cujo nível dos textos e dos comentários faz uma lixeira se sentir ofendida. Entende?
Nota de rodapé
Eu vi que o Phil Anselmo postou um vídeo de desculpas, sim. A questão é: não queria passar por isso, não fizesse, né? Não é questão de ser alvo do "politicamente correto" nem dos "guerreiros da justiça social", duas expressões usadas com tom ofensivo que eu odeio. É questão de sensibilidade. Tem coisa que não dá pra brincar, fazer trocadilho, cantar, escrever, pois são delicadas demais. Não é como o Sabaton que fala de guerras, mas com viés histórico, ou como o Powerwolf que fala de religião, porém inclinado para a fantasia e ironia.
Eu nunca me senti 100% ligada à "comunidade do metal", apesar das tentativas. Sempre achei certas opiniões e comportamentos bem trouxas. Claro, existe uma galera boa e que vai contra essas coisas, graças aos céus, mas ainda assim, ver um cara feito Robb Flynn, que junto do Machine Head ajudou a levantar o groove metal, um cara que eu gosto, dizer que "não se sente mais conectado à comunidade do metal"... É pra gente refletir.