Machine Head: superando limites
Ainda no giro de 2014, eu quero usar o primeiro Por que ouvir de 2015 para trocar uma ideia sobre um dos álbuns que mais me surpreendeu porque sim, mesmo procurando ficar o mais bem informada sobre os lançamentos de cada ano, sempre, e sempre tem aquela banda ou álbum ou detalhe que passa batido, infelizmente. É o que você ganhar por querer fazer tanto, tendo apenas 1 cérebro.
Assim começa a história do belo dia em que eu li sobre o Machine Head ter o nome e a arte da capa do novo álbum definidos, e esquecer disso por culpa da overdose de informação.
Minha caixa preta de nome cérebro só tomou noção do álbum novamente quando eu li sobre o vazamento de duas músicas do ótimo Bloodstone & Diamonds, faço que forçou banda e gravadora a adiantarem a novidade. É só clicar aqui e ler o texto que eu escrevi sobre o assunto. Depois de mais de 8 mil tretas e todas as expectativas possíveis envolvendo um dos ícones do groove metal, veio o álbum e ficou a pergunta: Bloodstone & Diamonds valeu a espera?
Sim, e eu explico o motivo.
Por que ouvir Bloodstone & Diamonds?
Os mais de 10 anos ouvindo metal criaram uma sensação engraçada: antes tudo parecia brutal demais, impossível de ouvir e entender por que os outros metalheads gostavam. Hoje, é relativamente difícil o peso, a velocidade, ou os ritmos e tempos das músicas me assustarem, no máximo eu torço o nariz por desgosto. Ainda assim Bloodstone & Diamonds me pegou de guarda baixa graças a um detalhe super interessante: o álbum é nervoso. Não brutal, intenso, agressivo... Nervoso é o exato adjetivo.
Também, pudera. Depois de perdas de contrato com a gravadora (o quê esperar da Roadrunner..) e processos judiciais, o Machine Head podia não existir mais depois de 2014. Sorte nossa que isso não aconteceu, e deu vida a esse álbum que coloca para fora todo o stress e tensão que a banda viveu nos últimos anos. O som é como a sequência do que foi apresentado em Unto The Locust, bem produzido e refinado aqui e ali ao mesmo tempo.
As guitarras acharam o seu meio termo entre o peso e melodia, sem serem doces demais, mas sem serem excessivamente sujas, e eu gostei de perceber isso. Chega em determinado momento, quando os músicos acertam certos riffs que você vai levantar o dedo e dizer: isso é Machine Head!, pois é o famoso signature riff (riff assinatura) que não importa quantos anos passem, se a banda o mantém, é impossível não reconhecer o seu som.
Já bateria é frenética sempre, não importa se nos momentos rápidos ou nos mais melódicos e groove. Só que as 12 músicas não se resumem apenas à pancada na orelha, os americanos foram inteligentes e puseram as faixas mais lentas super bem posicionadas na tracklist, deixando o ouvinte respirar sem parar a curtição do som, enquanto ele ganha fôlego para a faixa seguinte.
Já as opiniões sobre o álbum se dividem um tanto. Teve quem gostou, e claro, quem ainda insista no argumento de que nada jamais vai se igualar ao The Blackening, grande sucesso (e talvez o maior) do Machine Head. Graças a Deus por isso. Nós já devíamos ter superado a fase de insistir que as bandas devem voltar a fazer música como antigamente, pois é chato, irritante, e acima de tudo, a maior falta de respeito.
É como eu sempre digo e não canso: existem bandas experts em repetir a mesma fórmula; e existem bandas experts em misturar as fórmulas. O Machine Head fica mais ou menos no meio disso.
Robb Flynn: vocais à prova de envelhecimento
Todos os aspectos do álbum me agradaram bastante. Entretanto, o vocal de Robb Flynn é a melhor parte de Bloodstone & Diamonds. Já na casa dos 47 anos, o guitarrista não mostra sinal de cansaço, longe disso: sobra adrenalina e até mesmo raiva na interpretação das letras, que e contagiante e faz você bater cabeça sem esforço. O refrão de "In Comes Th Flood", por exemplo, você se empolga com a energia dele.
Mas, o outro lado da moeda não desaponta: o vocal limpo de Robb é bem bonito, indo do sombrio em "Sail Into The Black", ao super emocional em "Now We Die", num trecho que você percebe ter ligação com a história da banda (assista a Hardretrô 2014 onde eu falo sobre o assunto). Essa faixa também é uma abertura fantástica, usando violinos na medida, tornando o som que já é épico ainda mais incrível. Isso sem contar o vídeo oficial, um dos 3 melhores de 2014.
Letras com "easter eggs"
Se por um lado "Now We Die" tem essa ligação pessoal com a banda, mais duas músicas também escondem seus easter eggs. "Killers and Kings" faz uma série ligações entre o imaginário das cartas de tarot, e de forma inteligente, pois a banda conseguiu usar esse elemento que já existe, transformar e usar para passar a mensagem dela. Gostei demais disso.
Já "In Comes The Flood" gira em torno de questões tais como consumismo e capitalismo, enquanto a distópica e instrumental (e bem bacana) "Imaginal Cells" tem trechos do livro The Biology of Belief and Spontaneous Evolution narrados pelo próprio autor, o Dr. Bruce Lipton, participação que o vocalista Robb Flynn explica nessa entrevista como aconteceu.
"Night of Long Knives" é ambígua. Apesar dela ter sido batizada com o mesmo nome do expurgo promovido na Alemanha nazista entre 30 de junho e 1 de julho de 1934, o tema da música na verdade é relacionado à Charles Manson, fundador de um grupo que cometeu vários assassinatos no final dos aos 60 os Estados Unidos, entre eles o da esposa do diretor de cinema Roman Polanski, Sharon Tate.
A polêmica de "Night of Long Knives"
Descobrir o contexto por trás de uma das faixas que eu mais gostei foi no mínimo.. Chocante. O tema é cruel e eu até consigo encarar a música como uma espécie de documentário musical contando a história do evento, e aprender sobre a história humana não é necessário, é fundamental.
Seja uma história boa ou ruim, todas ensinam lições e geralmente as ruins ensinam as mais profundas, como por exemplo sobre com quem não andar, o caso perfeito de "Night of Long Knives". Partindo dessa linha de raciocínio eu posso continuar gostando da música. Entretanto, é difícil ver outra brecha além dessa que justifique a declaração do Robb à Kerrang! dizendo que o tema é fascinante.
Na verdade, mesmo essa linha de raciocínio já dificulta, mas enfim. Segue aqui o link para você ler.
A questão é complicada... Mesmo. Melodicamente falando a música é perfeita, cheia de energia. Um sucesso certo nos shows. Por outro lado eu acredito que certos temas por mais tentadores que sejam, devam ser ignorados por questão de sensibilidade humana, pois poucas pessoas teriam/têm o tato certo para abordar e menos pessoas ainda teriam o tato certo para entender.
Por isso eu não suporto certas bandas, álbuns e assuntos, e odeio a alegria metalhead ao dizer que isso sim é metal o bastante ao se referirem a músicos que glorificam o nazismo, mutilações, crimes e etc, e dependendo de mim essa fatia do metal não coloca os pés no Hardmetal Brasil tão cedo. Música é uma arma, não brinquedo. Eu gostaria mesmo que todo mundo entendesse o peso disso.
Destaques
"Now We Die"
"Killers & Kings"
"Imaginal Cells"
Conclusão
As 12 músicas de Bloodstone & Diamonds são nervosas e até revigorantes, e a audição passa meio rápido. Embora a primeira metade empolgue mais do que a segunda, se você dedicar um tempo para ouvir o Bloodstone & Diamonds inteiro e mais de uma vez, vai acabar gostando.
Descobrir o contexto de "Night of Long Knives" arranhou parte do valor que a música tinha, e eu me vi obrigada a tirar a música dos destaques. Isso também balançou a visão geral que eu tinha do álbum, mas por fazer a minha própria interpretação que você leu acima, eu conseguir recuperar um pouco do prejuízo... Entretanto, apesar disso os prós superam os contras e sim, a sensação de que a espera pelo álbum compensou é real.
Formação
Robb Flynn – vocais, guitarra
Phil Demmel – guitarra, backing vocal
Jared MacEachern – baixo, backing vocal
Dave McClain – bateria
Tracklist
1. Now We Die
2. Killers & Kings
3. Ghosts Will Haunt My Bones
4. Night of Long Knives
5. Sail into the Black
6. Eyes of the Dead
7. Beneath the Silt
8. In Comes the Flood
9. Damage Inside
10. Game Over
11. Imaginal Cells (Instrumental)
12. Take Me Through the Fire




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