Chegamos ao dia mais aguardado dos lançamentos nacionais, das bandas antigas e de peso. Hoje, enfim entraremos no Jardim Secreto para descobrir se ele é o paraíso prometido ou se foi uma cilada Bino.

O Angra é uma banda de Power Metal Melodico, estilo marcado pela bateria frenética no bumbo duplo, instrumentos tocados em altos BPM (Batidas Por Minutos) e som da guitarra fazendo cover de sí mesmo. A banda é original de São Paulo, criada em meados de 1991 e é uma das pioneiras do estilo no país, antes o Viper dava a porta de entrada do gênero com o excelente Theater of Fate (1989 e relançado em 1997).

A banda mudou um pouco aquele rotulo sonoro de 99% das bandas de power, e as linhas de guitarra do AngrA eram mais vivas, mesmo com o timbre constante, cada música era realmente única. Começou com Reaching Horizons, baita música para uma fita de demonstração. Pode soar estranho dependendo da sua idade, mas antigamente não eram CDs dominando, eram LPs (Vinil) e Fitas K7.

Já comentei em outros posts mas sempre vale a pena recordar, a banda inicialmente possuía outra formação. Surgiu com Rafael Bittencourt convidando seu amigo de faculdade, um tal de André "Arceus" Matos, para os vocais. Juntou-se a eles André Linhares para formar dupla nas guitarras, Luis "Jesus" Mariutti no baixo e Marco Antunes na bateria.

Formação de Ouro
Bem diferente da formação que logo seria conhecida com a formação de ouro do AngrA. Linhares saiu da banda e no seu lugar entrou o professor do Rafael, André "Zazá" Hernandes, hoje toca na banda do André Matos. Em pouco tempo Zazá também estaria saindo da banda, e no seu lugar Rafael convidou um guitarrista canhoto, que toca com a direita, começou no teclado, odiado por uns e amado por outros, e inegavelmente talentoso: Pedro Henrique Loureiro, mais conhecido como Kiko Loureiro para os íntimos.

Com essa formação ficaram ensaiando por um ano e lançaram a demo do Reaching Horizons. Depois disso vem a história que conhecemos e em outra ocasião entraremos a fundo. A banda partiria para seu debut: Angels Cry (1993). Marco sai da banda antes das gravações, ficando o registro das baterias com Alex Holzwarth. Depois assumiria o cargo Ricardo Confessori.

Após o Angels Cry, a banda ainda lançaria Holy Land (1996), que quebrou todos os tabus sobre o segundo álbum das bandas serem amaldiçoados devido ao primeiro ser foda. Fireworks (1998) com uma pegada mais prog e despedida da formação de ouro devido a desentendimentos que até hoje são difíceis de entender o que de fato houve.

Nova era bring back angels to the life!

A banda caminhava para um aparente fim, até que um concurso fez com que procurassem uma nova voz e nisso, chegamos a segunda formação de estúdio com Aquiles "Polvo" Priester na bateria, Felipe Andreoli (antes do CQC #tudumtss) no baixo, e no vocal a maior polemica e tretas que a internet nunca esperou tanto pra ter, Edu Falaschi.

Com essa formação lançaram o Rebirth (2001), que reza a lenda era composto para o vocal de Matos. Temple of Shadows (2004), aclamado como o melhor dessa fase e talvez, o disco a bater em Angels Cry (não na minha opinião). Até aqui tudo ia bem, até que novos desentendimentos viriam e a banda terminaria com Aurora Consurgens (2006). Aquiles sai da banda e Ricardo volta, lançam Aqua (2010) e a banda tem outra saída de vocal.

Os últimos álbuns foram tensos, e a banda parecia ter o fim decretado de novo. Ficou um bom tempo parada e com o vocalista Fabio Lione cobrindo os vocais temporariamente, a banda voltou a ativa e chegou a tocar no Cruzeiro 70000 tons of Metal e a gravar o DVD de 20 anos do Angels Cry, que quase teve reunião da formação de ouro em 2013.

Chegamos a 2015 e o que queremos de fato saber é: toda essa espera, drama, reformulações e principalmente, atitude de voltar valeu a pena? Vamos lá.



Abrindo as portas do Jardim Secreto


Secret Garden é o oitavo álbum de estúdio da banda. O estilo mudou um pouco, e pelas prévias lançadas, eu tive a sensação que aquele toque de AngrA parecia perdido, como comentei no Waka Talk #08. Kiko Loureiro comentou sobre o novo álbum, dizendo:
As mudanças musicais sempre acontecem porque nós mudamos como pessoas também. Então não apenas as mudanças de formação, então você pode esperar algumas mudanças, é claro, com o Fabio, uma voz diferente. Nós tentamos buscar novos caminhos para fazer música, então com certeza vocês ouvirão uma coisa nova e diferente, mas o núcleo e a essência do Angra estarão sempre lá de qualquer forma.
Essas mudanças estão numa pegada mais Power Metal e menos melódico ala AngrA, justamente pelo Fabio Lione. Algumas músicas a condução dela lembra mais a pegada do Rhapsody, porém, ouvindo o álbum aquela essência AngrA está sim presente, e temos as guitarras harmonizando, fazendo frases que lembram outras fases da banda.

Temos participações especiais como Simone Simons, sim ela mesmo a do Épica, cantando a faixa título e com uma voz parecendo uma mocinha, aqui ela me surpreende bem, já que nunca fui fã do vocal dela e estar no time do "Simone é mais modelo do que vocal, e sim ela precisava aprender a cantar mais", aparentemente aprendeu mais um pouco e ficou bom.

Um duelo vocal, realmente bom e surpreendente de Rafael Bittencourt com Doro Pesch na música Crushing Room. E a última surpresa se você estava em coma: Rafael cantando.

Sinceramente, Rafael nesse álbum consegue tirar o foco de Fabio Lione, o italiano que pra mim foi a escolha certa pra cantar as músicas de Andre e Edu, como bem vimos na analise do DVD de 20 anos. No Secret Garden, Lione me parece mais acanhado e parte para um lado que é menos natural para ele: agudos ou quase lá né, o cara é tenor, canta mais grave.


A espera valeu a pena e, mesmo parecendo que ia dar ruim bonito essas invenções, e também destacando o novo baterista Bruno Valverde com o estilo comer sushi de tocar. Secret Garden dá uma nova vida a banda que já teve seu momento de Rebirth e agora, não pode mais abusar de erros ou focar numa visão que a prejudicou. Se aproximar mais dos fãs será bom, e quando entrei no site para ver uma informação de capas do Secret Garden, não me deu uma reação positiva o destaque para contratar Meet & Greeting, a modinha atual do cenários musical.

Secret Garden vale demais ser ouvido ao menos uma vez para você conhecer, ouvir de novo para parecer familiar e na terceira você deixa seu veredito, caso fique meio sismado com a nova pegada, que lembrando, NÃO perdeu a cara de angra como eu temia. Hora de ouvir mais uma vez...