Se o Hardmetal Brasil terminasse hoje, 30 de dezembro de 2014, a maior lição que eu levaria é sobre o quão diferente o metal brasileiro é com relação ao que eu imaginava. Na minha cabeça existiam vários estereótipos, uns que infelizmente ainda se provam reais, mas outros que nah, não condizem com a realidade. Um quantos deles foram quebrados pelo Confronto.

Sim, eu prestei atenção extra na banda pelo fato dela ser do Rio de Janeiro. Já pararam para dizer em voz alta heavy metal carioca e ver como soa bonito? Assim nós mostramos que a cidade do samba e do funk é um pouco mais diversa, e que apesar de ser conhecida como maravilhosa (ainda assim com algumas exceções), mas a maioria de nós não vive no núcleo rico da PlimPlim. Aqui tem muita coisa ruim, mas também tem coisa boa que diariamente nos impede de perder a esperança.

Antes de seguir, um resumo de quem é o Confronto: a banda foi fundada em 1999 (!) e tem Felipe Chehuan nos vocais, Maxmiliano na guitarra, Eduardo Moratori no baixo, e Felipe Ribeiro na bateria. Cantam em português, o que é deveras importante dado o foco das letras: o Confronto faz jus ao nome e aborda as mazelas brasileiras, o social, o histórico, o político. E o mais legal é que você vê, ouve e sente que a banda é comprometida ideologicamente com o que prega, não é coisa de butique.

(O que rende credibilidade extra)



Somando isso ao fato de fazerem um som que puxa para o hardcore/metalcore, dá mais impacto ao trabalho que só vem recebendo elogios dentro e fora do Brasil, prova disso é o mais recente play, Imortal. O terceiro álbum de estúdio dos cariocas teve lançamento pela Urubuz Records, selo representante das gravadoras Century Media, Metal Blade e AFM no Brasil.

Para você ter uma ideia, o mesmo selo lançou Suicide Silence, Napalm Death, Nuclear Assault, Tankard, e entre as brasileiras já lançou Farscape, Metalmorphose, NX Zero, Glória, Mukeka di Rato, e por aí afora. Indo além: Imortal já está até com data marcada para chegar as prateleiras da europa via Deadlight Entertainment. Dia 19 de janeiro.

Fonte: Facebook

Se você nunca ouviu a banda antes, deixo a apresentação no Showlivre esse ano como dica (de mãe). Destaco "Aos Dragões" e "Flores da Guerra", duas das músicas do Imortal que eu mais gosto.





Mas o que eu quero falar ainda não é isso.

Dias desses (pouco antes do natal) vi o Confronto anunciar no Facebook um show. Normal, não fosse por ser um show beneficente. Ainda normal, não fosse por reunir algumas bandas nacionais (Diabo Verde, Protesto Suburbano, The UnhaliGäst, Rose Red). Continua normal, não fosse por reunir todas essas bandas e levá-las para um bar do subúrbio carioca e apesar de eu, Bruna, não gostar tanto do som de todas, uma boa ideia é uma boa ideia, então divulguei no nosso Facebook o post do show que foi batizado de Subúrbio Humanitário.


O ingresso? Não R$ 10 nem R$ 100. Com 1 peça de roupa ou 1 brinquedo você já estava dentro.

Vou me atrever a fazer uma analogia: o heavy metal em horas assim me lembra muito a religião, já que eu vivo nos dois mundos. Nos dois eu vejo muitas polêmicas, mal interpretações, estereótipos, vejo contras, mas também vejo prós. Ambos tem um potencial social imenso, podem alcançar pessoas e mudar a vida delas para a melhor, mas desde que o mesmo potencial seja explorado por gente comprometida com a causa, e não por gente comprometida em se esconder atrás da causa.

E infelizmente, tanto na religião quanto no metal cheio de gente assim. Se escondendo.

Tal como eu digo: 99% de cretinos não quer dizer 100% de cretinos. Não generalizar é importante, manter o olho vivo idem. Sempre tem alguém que pode fugir à regra positivamente, vide o Confronto que segue me surpreendendo enquanto mostra que sim, o metalhead pensa nele e pensa no outro, tem consciência social e entende a importância disso, seja nas músicas ou nessas atitudes que deveriam ser plagiadas por todo mundo.

Bater cabeça já é bom, mas quando se tem um pano de fundo desses, sem dúvida fica melhor ainda. É uma ideia que eu espero realizar com o Hardmetal Brasil, mas que segue engavetada por precisar de uma estrutura que nós ainda não temos. Enquanto isso parabéns ao Confronto e todos os envolvidos, porque é bonito de se ver.