Você que me acompanha no Hardmetal Brasil sabe que eu implico demais com a mentalidade das bandas de metal na hora de fazer vídeos, e com certeza já viu as tantas vezes que eu critiquei o uso da velha fórmula banda + garagem até cansar. Entretanto, um nome tem fugido a regra e chamado muito a minha atenção: é o Machine Fucking Head, que desde o álbum Unto The Locust tem produzido literalmente brutais.

Sem medo de usar uma estética forte o Machine Head choca, causa impacto visual, surpreende e passa o seu recado com força dobrada. Assim foi com "Locust" e o apocalipse dos gafanhotos que não deixavam ninguém vivo por onde passavam, e ainda mais com "Darkness Within", vídeo acuja estética alterna um pouco entre o forte e o grotesco, deixando quem assiste angustiado, mas abusando a ousadia e fazendo aquilo que eu sempre espero de uma banda de heavy metal:

Dar um murro no seu estômago emocional.

E ontem a banda mostrou serviço mais uma vez com o lançamento do vídeo de "Now We Die", que mesmo tendo sofrido leve atraso por problemas técnicos, se mostrou digno da espera. Sinceramente? Desde "Paradise (What About Us?)" do Within Temptation que eu não ficava tão ansiosa pra ver um vídeo, e no final ficou a sensação de dever cumprido, porque dos vídeos que eu assisti em 2014 (e acredite, não foram poucos), "Now We Die" é facilmente o melhor deles.


A música

Desde o lançamento do single eu já havia me apaixonado sem volta pela música. Ela é agressiva, mas ao mesmo tempo mostra certa emotividade por causa dos violinos, super bem colocados logo na introdução. Os mesmos violinos aparecem de vez em quando ao longo da música, com destaque para um momento chave na metade, o mais emocional e bonito que eu já ouvi em muito tempo.

Outra coisa que também apaixona é a forma como Robb Flynn canta. O guitarrista/vocalista está na casa dos 46 anos (!!!), porém com mais gás do que nunca, cantando com uma agressividade imensa, do tipo que enche você de adrenalina e faz você se sentir capaz de qualquer coisa. É contagiante.

Mas a grande sacada mesmo está na letra, que é bem atual, até. Ela inspira reflexão, união, explora a fragilidade humana, e faz um jogo de sentido interessante com a questão do "morrer", que pode ser interpretado como ao pé da letra ou num sentido mais metafórico, ao estilo do que eu disse aqui sobre "Killers & Kings".


O vídeo

Ele é incrível. "Now We Die" segue a linha mais obscura de fazer vídeos, afinal quer coisa mais dark que colocar palhaços tocando violino? Precisei dar esse spoiler para você ver onde eu quero chegar. No geral eu encaro como uma espécie de versão Machine Head para o submundo, invocando várias imagens diferentes (quando você assistir, você vai entender), e um momento que é deveras marcante.

Por volta dos 4:48mins Robb solta a voz limpa, que é um presente para a humanidade, com o devido exagero. É engraçado e sensacional como um cara pode ser tão durão e sensível ao mesmo tempo. Robb se saiu muito bem na interpretação. E esse trecho combina com a parte mais triste e bonita do vídeo, e sim, estou dando voltas em torno disso porque eu quero falar, mas ao mesmo tempo eu não quero porque spoilers.

Mas vai por mim, assista. 


O veredito

Poucas bandas mostram a mentalidade do Machine Head na hora de produzir um vídeo. Não se trata de encher linguiça com imagens aleatórias da banda tocando em um cenário ainda mais aleatório, se trata de independente da verba disponível, de ter um propósito para o vídeo. Isso é fazer arte. Se a banda tiver outros vídeos na fila que sigam a linha de "Now We Die", só digo uma coisa: mostre-me tudo e não me esconda nada.

E assim começa a era Bloodstone & Diamonds.