Eu vivo dizendo isso, mas é que eu não me canso: me deixa super feliz descobrir uma banda boa, seja ela nova ou não. Afinal eu adoro música e o meu trabalho é falar sobre ela. Só que eu fico ainda mais feliz quando a descoberta é brasileira, pois quebra vários estereótipos que mesmo eu tinha antes de escrever para o Hardmetal Brasil.



Sim, a primeira impressão é a que fica

Quando você ouve o novo álbum do Kattah, fica difícil pensar (ou acreditar) que esse é apenas o segundo álbum de estúdio da banda. Lapis Lazuli mostra solidez, o rápido amadurecimento da sonoridade, cujo resultado final tal como a gente diz no popular, não deve em nada as bandas gringas. Ao contrário: o álbum carimba o passaporte dos curitibanos para entrar no caminho do reconhecimento pelo seu esforço.


Os responsáveis pela produção de Lapis Lazuli foram Roy Z, que já trabalhou com Bruce Dickinson, Sepultura, Helloween, os brasileiros do República, e Andy Haller, que também trabalhou com Bruce Dickinson e Sepultura, além de Ozzy Osbourne, Judas Priest, Rob Halford, Andre Matos e System of a Down. E tendo uma dupla com esse grau de experiência fica fácil criar músicas encorpadas, além de entender a presença de outros detalhes que no fim fazem todo o sentido.




E porque ouvir Lapis Lazuli?

Porque é um caldeirão de referências temperadas com um bom conceito. De acordo com o Kattah, Lapis Lazuli demonstra o mistério dos atuais estudos científicos sobre os faraós, as almas, a vida após a morte e a cultura em espírito, uma boa explicação para alguns títulos da a tracklist, mas principalmente a capa (muito bonita, por sinal), desenvolvida por Rohdrich Silva e Roni Sauaf. Aprofundando na nerdice, o lápis lazúli (que sim, existe) era uma pedra muito apreciada pelos egípcios, usada em amuletos e ornamentos.


O que me chamou a atenção é como o Kattah faz rápidas mudanças de ritmo. Isso deixou as músicas menos lineares, menos tediosas, tornou a experiência mais interessante, pois quando eu achava que a melodia ia seguir por um lado, ela seguia outro. Mas nada do tipo oh meu Deus, nós não tínhamos a menor ideia de que isso daria tão certo!, não não. Você sente a forma segura na qual os integrantes tocam, a explosão da bateria, os riffs, fica claro que nada é acidental. Tudo é feito com a segurança de quem se planejou e sabe o que está fazendo.


Falando por falar em fazer, fiquei ainda mais feliz com o espaço dedicado ao baixo nas músicas. É o instrumento que eu mais gosto, e ouvir Cícero Chagas explorando o baixo com liberdade e facilidade arranca facilmente um suor dos olhos, ao mesmo tempo que deixa evidente a maior referência no som do Kattah: Iron Maiden. Em vários momentos Cícero vai te fazer lembrar de Steve Harris, mas por se tratar apenade Steve Harris eu diria que é uma coisa boa, certo?


Ah, e a referência continua quando Roni Sauaf começa a soltar a voz, mostrando que é um discipulo competente de Bruce Dickinson. Canta muito, o menino. E é interessante, porque apesar dessas inspirações na NWOBHM o som não é tão puxado para o heavy clássico. Existem influências de outros estilos musicais, de ritmos brasileiros, uma ideia batida, sim, mas que é usada pelo Kattah na medida certinha pra causar um resultado até inesperado, fugindo do clichê Roots/Holy Land.


Destaques

Eu não consigo imaginar outra faixa que não fosse Behind The Clay para ser a abertura do álbum, pois a música é curta (a mais curta das 11, com 3:27mins), rápida, um bom tapa na orelha pra deixar você ciente do que vem em seguida. As guitarras simplesmente brilham com o que fazem aqui.


Lapis Lazuli começa com um gingado brasileiríssimo que logo cede espaço ao peso das guitarras, e somando isso a voz ora sussurrada de Roni temos uma música bem... Cinematográfica, pois o efeito sonoro de trovões deixa esse ar misterioso. Mas, a surpresa são os trechos em português, cantando algumas cantigas populares. Eles surgem do nada, mas só reforçam o que eu digo.


You Will Never Be Dead segue uma melodia mais tranquila e semi acústica nos 2, 3 primeiros minutos, mudando completamente daí pra frente com o encaixe de um trecho rápido, quando na casa dos 4:40 dá as caras o solo de guitarra mais bonito e sentimental do álbum, encaminhando a música para um final incrível


Conclusão

Fica aqui o meu muito obrigada a Furia Music Press por dar a chance de ouvir o Lapis Lazuli em primeira mão. É um álbum promissor com vocais matadores, cheio de energia, e que me deixou mais uma vez animada com o futuro da cena brasileira, aquela onde não é fácil sobreviver, mas que sempre dá uma alegria.

Ao Kattah, meus parabéns, claro. Estou torcendo pelo sucesso de vocês.

E a você, metalhead (e por que não, pessoa que gosta de boa música independendo o gênero): Lapis Lazuli chega as prateleiras no dia 27 de outubro via Baker Team/Scarlet Records.


Formação

Roni Sauaf - Vocais
Victor Brochard - Guitarra
Cicero Chagas - Baixo
Cristian Alex - Bateria


Tracklist

1. Behind The Clay
2. Inside My Head
3. Apocalypse
4. Alpha Centaury
5. Vetus Espiritus
6. Rebirth Of Pharaohs
7. The Hidden Voice
8. Lapis Lazuli
9. A Capoeira
10. Land Of God
11. You Will Never Be Dead