Todos os dias eu vejo, leio, e claro, ouço muita coisa. Das coisas que eu leio e mais me deixam triste é aquele grupo de pessoas que não importa a banda, ele sempre vai estar insatisfeito com o que a sua banda favorita fizer, geralmente ficando preso(a) a um passado que não dá o menor sinal de voltar.

O Machine Head é uma ótima banda. Nenhuma novidade. Criei interesse no trabalho de Robb Flynn & companhia a partir do incrível Unto The Locust, que até ganhou resenha aqui no blog. Esses dias li sobre o vazamento de não uma, mas duas músicas do novo álbum Bloodstone & Diamonds e apesar da curiosidade em ouvir, ao mesmo tempo eu fiquei preocupada.

As músicas vazaram três semanas antes do lançamento.

Mas numa positiva surpresa, o Flynn reagiu de maneira até bem educada ao ocorrido, num texto que você pode ler aqui. Com isso a Nuclear Blast foi forçada adiantar o lançamento das duas músicas no Youtube e assim o mundo conheceu "Now We Die" e "Killers & Kings" oficial e legalmente.

E eu digo para você: ambas as músicas são ótimas.


Now We Die



Na primeira vez que eu ouvi fui megamente surpreendida pelo começo à base de violinos, lembrando até um pouquinho "The Essence of Silence" do Epica, mas aqui só são os violinos mesmo. A vibe desse começo é bonita, meio tristonha porque Robb grita And with this now we die ao fundo, mas logo vem o peso, e um bom peso. Em geral a melodia tem uma cadência que prende a sua atenção, o refrão é até bem acessível por causa do retorno dos violinos, tudo para despertar o amor e ódio.

A partir dos 4 minutos começa um solo que vai até os 4:40 e me agradou muito, pois além de ser bem trabalhado é acompanhado linhas de baixo fáceis de ouvir, algo que não acontece sempre e quando acontece, é mega gostoso de ouvir. Aos 4:40 vem o trecho mais incrível e até emocionante da música.

Robb é um dos três vocalistas* que eu mais gosto por causa da voz limpa que é sofrida e triste. Nesse trecho, mais lento, numa quebra de ritmo que lembra "Locust", Robb canta uma reflexão sobre as dificuldades da vida, e acerta em cheio com o verso let new life be, old life goodbye. Em todas as vezes eu ouvi essa parte da letra eu me emocionei, sabe? É aquela emoção de ouvir algo bem feito, de se identificar com a mensagem. O heavy metal continua mágico.

Ao fim da música eu só posso dizer que a hype que eu não tinha nasceu, cresceu e esse é mais um must que eu preciso ouvir em 2014, haja ouvido pra tanta coisa. Unto The Locust foi um álbum sólido, eu ouvi e gostei bastante, agora fica a mesma boa expectativa para Bloodstone & Diamonds.


Killers & Kings



Já Killers & Kings é mais matadora, cheia de riffs e mantendo algumas harmonias de Now We Die. Aqui não tem pausa para momentos soft, mas é uma boa coisa, afinal, se a vibe for emotiva e sensível direto, também acaba enjoando porque excesso de nada é legal. Aos 2:36 você ouve uma virada da bateria que é rápida e marcante, quebrando o tempo da música de forma meio estranha, mas válida. Só que o que eu mais gostei aqui é a letra, com várias "referências nerds", porque se você quer ganhar o meu coração, faça uma música com referências.

Além do que eu julgo ser uma leve referência bíblica (a Eclesiastes), você encontra várias referências ao Tarot, onde Robb cita o nome feito "The Hermit's Lamp" (da carta "O Eremita"), "The Knight" (da carta "O Cavaleiro"), "The Fool" (da carta "O Louco"), e outras.

Entretanto, o que chamou a minha atenção é uma referência que merece o Selo Silvio Santos de Bem Bolado: essa tem a ver com a carta "The Death" (a "Morte", pura e simplesmente), num verso que diz the death card doesn't mean you die, it means a change is coming that you simply can't deny, ou traduzindo mais ou menos, que a carta da morte não significa que você morre, ela indica uma mudança que está chegando e que você simplesmente não pode negar.

E se você ler o significado da carta aqui, vai concordar comigo que bingo. Excelente analogia.


O veredito

Com isso o Machine Head manda o recado: a banda está mudando, abraçando as mudanças e tirando o melhor delas. Afinal não é fácil sair do pequeno inferno de romper com uma gravadora (a nada problemática Roadrunner Records), cogitar não lançar material novo durante um tempo, assinar con outra gravadora (a Nuclear Blast), romper com um integrante (o baixista Adam Duce), o integrante processar a banda.. As letras de ambos os singles refletem esse sentimento.

E quem somos nós para criticar?

"Fãs", você diz.

E eu respondo.

O verdadeiro fã não aceita calado tudo o que a sua banda favorita faz, mas também não cospe e critica com hostilidade só porque isso é mostrar senso crítico. Grande besteria. Banda históricas feito o Machine Head merecem o voto de confiança e acima de tudo, respeito. Não são novatos que não sabem o que estão fazendo.

Eu gostaria mesmo de ver as pessoas encararando cada novo lançamento não pensando no que ele poderia ter sido, mas abraçando esses lançamentos pelo que eles são, e se não gostar, é só seguir em frente ou voltar pro passado que tanta gente gosta. Mas que é bacana respeitar quem está empolgado com o aqui e o agora, isso é.



Tracklist:

1. Now We Die
2. Killers & Kings
3. Ghosts Will Haunt My Bones
4. Night of Long Knives
5. Sail into the Black
6. Eyes of the Dead
7. Beneath the Silt
8. In Comes the Flood
9. Damage Inside
10. Game Over
11. Imaginal Cells (Instrumental)
12. Take Me Through the Fire