Na retrospectiva 2015 eu confessei uma decisão já tomada: cansei de ser gostável. Não que eu fosse falsa com vocês antes, nunca fui e jamais serei. Só que em 2016 eu quero ser ainda mais sincera nos meus textos. Então a primeira resenha de lançamento desse ano já vem assim, doida, pois fazer uma crítica "nua e crua" de um projeto que eu amo, é intenso. 



Por que (não) ouvir 'Ghostlights'?
Porque se você está procurando alguma coisa realmente interessante, revolucionária, não é 100% o caso do álbum. O som é eficiente, cativa em mais de um momento, mas no geral é meio genérico, e você pode seguir na vida sem ouvir o álbum completo ou várias vezes. Eu tinha expectativas da minha experiência em ouvir Ghostlights ser agradável e nostálgica, afinal o Avantasia tinha terminado e voltou quando menos se esperava, porém no fim das contas a experiência foi meio irritante, e em parte neutra, o que é super chato.

Hoje, em 2016, não consigo sentir o mesmo apelo que eu senti em 2013 com o lançamento de The Mystery of Time, do qual Ghostlights é continuação. Não leu a nossa resenha? Pode ver aqui. A história e o conceito não são ruins, ao contrário, mas a prática ficou meio estranha.. Ou quem ficou estranha foi eu? De um lado os Metal Opera contaram a história da terra de Avantasia e abusaram do power melódico cavalgado, já The Scarecrow, The Wicked Symphony e Angel of Babylon contaram a história de ascensão e queda do Espantalho, a sensacional The Wicked Trilogy que abraçou o hard rock/melódico/sinfônico que dividiu fãs, mas que eu adoro. E mais que os Metal Opera.

Acredito que isso possa ser um efeito colateral do Mystery of Time, que também não é ruim, mas que me deixou com uma sensação parecida. Ghostlights eu não tive nem muita paciência de ouvir até o final, desistindo quase sempre na hora de "Babylon Vampires", uma xerox exata (com o perdão da redundância) de "Invoke The Machine", enquanto "Ghostlights" encarna "Wastelands." Isso sem falar dos convidados, que eu achei meio apagados quando você lembra de performances anteriores, tão bem exploradas.

Mas, cabeça erguida. A sofrência não é tão sofrida assim, pois uma coisa lá e cá realmente salta aos olhos (ou seriam os ouvidos?) e fazem quem já conhece o Avantasia de outros carnavais pensar: aí sim, é o que eu esperava do Avantasia.

Os refrões das músicas são muito bons, isso a ranzinza que vos fala não pode negar. São clichês, mas eles grudam mesmo e não demora para você aprender a cantarolar um ou dois. Comigo foram os de "Mystery of a Blood Red Rose" e "Let The Storm Descend Upon You." Esses refrões carregam a farofa clássica que o Avantasia criou com músicas feito "Dying For An Angel" ou "Runaway Train," o que eu gostei. A presença do Jorn Lande no álbum foi fundamental, porque se o Avantasia fosse um time, Jorn seria o melhor jogador da partida. Mesmo.

Destaques
"Mystery of a Blood Red Rose": precisei ouvir muitas vezes até gostar da música, mas consegui. Ela é genérica, básica, mas evoca uma atmosfera teatral, é cativante de forma que nem todas as outras músicas do álbum conseguiram. O refrão é impossível de não cantarolar;

"Let The Storm Descend Upon You": outra que custou uma pequena eternidade até eu gostar de ouvir, mas que deu jeito. Continuo achando a posição dela na tracklist errada, que ela funcionaria ainda melhor como quarta ou quinta música, mas ainda assim é uma música muito boa. A condução do ritmo agrada demais, o refrão é novamente matador, e o Jorn Lande brilha com o punch que só a voz dele tem;

"Draconian Love": essa música é sensacional. Mesmo. Ela vai positivamente contra todas as possibilidades do que eu esperava do Avantasia, investindo num caminho mais gótico (por assim dizer) que faz lembrança enorme ao som do Paradise Lost (guardadas as devidas proporções), o que é deveras maneiro de perceber. Herbie Langhans deu show.

Conclusão
Onde enxergaram um álbum "eclético" eu vi na realidade um álbum disperso, cujas faixas funcionam bem se ouvidas separadamente, mas cujo efeito não é tão parecido na hora de ouvir o conjunto. O "elenco" escolhido não foi tão bem trabalhado quanto outros, e eu tive um problema para ouvir "Master of The Pendulum" com o Marco Hietala, porque tudo relacionado ao Nightwish me causa desconforto, embora a música não seja ruim. Minha decepção foi "Isle of Forevermore", que não faz jus ao potencial da vocalista Sharon den Adel e torna até mesmo "Sleepwalking" mais legal.*

(*Na verdade, "Sleepwalking" é uma música bem simples, porém muito cativante e subestimada)

Então digo e repito: se você não está atrás de nada super mirabolante, e quer só mais um pouco de metal melódico bem produzido na vida, com boas composições e refrões, Ghostlights é a pedida. Se você quiser isso e mais energia e coesão, recomendo outras coisas, como por exemplo o "Space Police - Defenders of The Crown" do Edguy que é muito bom. Dica de mãe.

Com isso fica a dúvida: o Avantasia deveria ter realmente voltado? Terminar no Mystery of Time teria sido melhor? No Angel of Babylon? Opinião sincera: juntem umas quatro músicas do Ghostlights com outras cinco do Mystery of Time, eu fico ouvindo as 10 músicas e finjo que nenhum dos dois álbuns aconteceu.

PS: torçam pelo Tobias, pois ele vai tentar o Eurovision com "Mystery of a Blood Red Rose". Daquelas coisas que a gente não vive pra ver aqui no Brasil.


Tracklist
1. "Mystery of a Blood Red Rose" (Tobias Sammet)
2. "Let the Storm Descend Upon You" (Jørn Lande, Ronnie Atkins, Robert Mason)
3. "The Haunting" (Dee Snider) 
4. "Seduction of Decay" (Geoff Tate)
5. "Ghostlights" (Michael Kiske, Lande)
6. "Draconian Love" (Herbie Langhans)
7. "Master of the Pendulum" (Marco Hietala)
8. "Isle of Evermore" (Sharon den Adel)
9. "Babylon Vampyres" (Mason)
10. "Lucifer" (Lande)
11. "Unchain the Light" (Atkins, Kiske)
12. "A Restless Heart and Obsidian Skies" (Bob Catley)

Formação
Tobias Sammet - vocal principal em todas as faixas, teclados adicionais e baixo
Sascha Paeth - guitarras (exceto nas faixas 2, 8, 10, 12), baixo, teclados adicionais, engenharia e mixagem
Michael Rodenberg - orquestrações, teclados, masterização
Felix Bohnke - bateria

Músicos convidados
Bruce Kulick (Grand Funk Railroad, ex-Kiss) – guitarra principal nas faixas 9, 10, 12
Oliver Hartmann (ex-At Vance) – guitarra principal nas faixas 2, 5, 9, 11

Vocalistas convidados
Jørn Lande (ex-Masterplan, ex-Ark)
Michael Kiske (Unisonic, Place Vendome, ex-Helloween)
Ronnie Atkins (Pretty Maids)
Dee Snider (Twisted Sister)
Geoff Tate (Operation: Mindcrime, ex-Queensrÿche)
Marco Hietala (Nightwish, Tarot)
Sharon den Adel (Within Temptation)
Bob Catley (Magnum)
Robert Mason (Warrant, ex-Lynch Mob)
Herbie Langhans (Sinbreed, Beyond the Bridge, ex-Seventh Avenue)

Links relacionados