Mal começamos 2016 e já tivemos baixas grandes. Primeiro, Lemmy Kilmister, baixista e vocalista do Motörhead, que morreu aos 70 anos. Depois, no dia 11 de janeiro, um ícone da música em geral, David Bowie, aos 69. Glenn Frey, vocalista do Eagles, aos 67 anos. No off-rock, Natalie Cole, aos 65 e Alan Rickman, o Severo Snape de Harry Potter, aos 69.
(Entre outras mortes do universo rock)
Não fui fã de Motörhead, nem vou começar agora, mas respeito as pessoas que gostam, e que não são poucas. Independente do que eu penso, Lemmy é parte da história do metal. Mesmo não prestando toda atenção na vida do Bowie, sempre achei legal essa coisa camaleônica pela qual ele ficou famoso. É bem difícil quem conheça de pop/rock não conhecer ele, ou não achar o visual de "Ziggy Stardust" exótico, mas incrível. Ambos marcaram época, deixaram legados que vão durar muito tempo, mas tem algo que me deixa ainda mais triste nisso tudo: o vazio que essas perdas me provocam.
(Já do Eagles eu até gostava.. Fiquei mais presa aos hits é verdade, mas quantas músicas de hoje a qualidade de "Hotel California" vale?)
Às vezes eu tenho a forte sensação de que o processo de renovação da música tem sido muito injusto. É coisa séria. Nós amamos Bruce Dickinson, Madonna, David Bowie, porém esses artistas e tantos outros (Cyndi Lauper, Rob Halford, etc) tem um bom tempo de estrada e de vida, por isso o tempo está contando mais e mais para essa gente, enquanto os sucessores, o legado nosso, da geração dos jovens adultos, vai se construindo. Ou melhor.. Nós temos um legado? Estamos criando algo sólido para deixar para as próximas gerações? Que não vai se perder em 5, 10 anos?
Vou além. A formação de verdadeiros ícones da música agora, no presente, é cada vez menos rotina. Claro, existem exceções, mas ainda assim, o que lidera é a música de rápido consumo, bandas com prazo de validade muito curto se comparar ao Scorpions, na estrada há 50 anos. Ou até mesmo a própria Madonna, na estrada, ativamente, desde 1983. Diga com sinceridade: você vê a maior parte dos artista de hoje durando 50 anos na estrada? Eu não vejo. E isso me preocupa por demais, pois mostra a fragilidade da arte (ou "arte") que estamos criando, onde a criatividade abaixa a cabeça para o corporativismo porque dizem que ser um Rebel Rebel não daria jeito.
Ok. A indústria da música é escrota desde sempre. Doro Pesch viveu isso lá a década de 80, mas ainda assim chegou aqui. O Bowie, com a sua excentricidade visual, nunca achei forçado nem feio, apesar de não ser fã, eu achava ao menos interessante, sempre pareceu bem espontâneo. O cara sabia fazer arte, e em "troca" disso tinha um teve feedback do mundo, incluindo financeiro. Ele criou músicas que seus pais ouviram, você ouviu, e se bobear, seus filhos e filhas também ouvirão. Aí eu pergunto: você se vê fazendo o mesmo com a maioria dos artistas de hoje? Eu não me vejo.
Isso é triste, pois a música é a forma de arte que eu mais gosto e valorizo, só que hoje ela ficou extremamente desvalorizada. E não digo nem financeiramente, digo mais em matéria de criatividade. Todo profissional faz seu trabalho na esperança de ganhar algum dinheiro, afinal só amor não paga as contas. Entretanto, o lucro hoje em dia virou causa, não a consequência, e transformou os artistas em caça-níqueis que quando você abre está cheio de moedas dentro, mas além disso, é só um caixote de madeira oco.
Quando teremos a criatividade de outro personagem que se iguale ou supere Ziggy Stardust?
Quando teremos outro "Ace of Spades"?
Quando teremos outra "Hotel California", que com seu arranjo simples e gostoso demais, cativa a qualquer um?
É complicado. É um problema que atinge dentro e fora do metal. Será que vamos viver idolatrando bandas que já terminaram? Álbuns que foram lançados há 10, 20 anos? Não que isso seja problema, mas viver só disso com certeza é um problema e preocupação. Imensa. O céu da música está pedindo as suas estrelas de volta, enquanto isso, aqui na Terra, nossos dias vão ficando mais e mais apagados.
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