Ok, já quero começar pedindo desculpas. Semana passada eu prometi uma determinada edição de Atenas para hoje, mas não vai rolar. São ossos do ofício eu embolar o meio de campo, até porque a vida colabora e faz isso acontecer. Tive que empurrar o texto para frente de novo porque tem outra coisa pra gente conversar antes. Trouxeram os ovos? Espero que sim, pois hoje é dia do nosso ritual de pisar num monte deles.

Na madrugada de domingo para segunda (25) aconteceu nos EUA a tão aguardada estreia da décima temporada de Arquivo X, que rendeu uma audiência incrível a Fox e nós falamos sobre. Até pensei em assistir.. Mas é um assunto para outro post. Vi fãs contentes e orgulhosos pelo retorno de Mulder e Scully ter sido tão positivo, tranquilo, favorável.. Ou quase tranquilo e favorável, pois Arquivo X voltou, só que não sem uma polêmica clássica. O assunto saiu em vários sites, gerou certa comoção (embora eu esperasse mais..), então é claro que ele parou em Atenas.

Óbvio que série precisava da atriz Gillian Anderson, afinal, Arquivo X sem Scully, é Buchecha sem Claudinho. Entretanto, nem ela escapou do ridículo de lhe oferecerem a metade do salário de David Duchovny. Novamente, pois a mesma coisa aconteceu nos anos 90. Em entrevista ao THR, a atriz disse:
No começo eu pensei que era uma piada. Eles não falaram comigo antes, eles chegaram me oferecendo metade do que foi oferecido a David.
No fim das contas as fontes do THR dizem que os atores acabaram recebendo os mesmos valores, só que muito me intrigam quais: o do salário da Gillian ou o do salário do David? A desigualdade de salários é uma forma de segregação tão antiga que ela ainda existir em 2016, a era onde todo mundo finge que é revolucionário e quer mudar o mundo, não faz 1% de sentido. E isso é muito preocupante. Mesmo.

Em agosto de 2015 foi divulgada uma pesquisa que apontava que as mulheres levarão 80 anos para igualar os salários com os homens. Oitenta. Se depender dessa pesquisa eu não vou viver para tornar isso realidade. E quando se fala de Brasil a coisa é pior: as mulheres entram no mercado de trabalho ganhando 76% do valor recebido pelos homens. Tem formação superior igual a mim? Respire fundo, pois 60% do salário dos homens é o que te espera na sua folha de pagamento.

O agravante: a Constituição brasileira proíbe diferença de salário e discriminação nas contratações. Mas é exatamente isso o que mais se vê na hora na contratação: notícias de mulheres discriminadas pelo cabelo, cor da pele, classe social, um problema que atinge aos homens, mas que ainda é muito mais forte com elas

Não sou a dona da verdade, só estou reproduzindo fatos. E mesmo as porcentagens não sendo essas, o problema existe e ninguém pode negar. Mas voltando as nerdices.

A desigualdade de salários foi bastante abordada em 2015 pelas atrizes de Hollywood, o que é ótimo. Amanda Seyfried, Jane Fonda, Lily Tomlin, Charlize Theron, todas colocaram a boca no trombone para gritar o problema, mas foi a Patrícia Arquette (sdds Medium) que deu mais destaque ainda ao tema na entrega dos Oscars quando subiu para receber o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por "Boyhood":
Aww, sim. What a time to be alive.
A cada mulher que deu à luz, a cada cidadão e contribuinte desta nação, nós lutamos pelos direitos iguais de todos. É nossa hora de ter igualdade salarial de uma vez por todas e direitos iguais para mulheres nos Estados Unidos da América.

Esse foi o famoso discurso de agradecimento, aplaudido de pé apenas pela Meryl Streep:



Outra que também andou se manifestando foi a Jennifer Lawrence, mas disso eu falo daqui a pouco.

A diferença de salários entre homens e mulheres me incomoda ainda mais ao cutucar o ninho da vespa: Marvel Studios. Ano passado eu divulguei a lista da FORBES das atrizes mais bem pagas de 2015 e quando você olha, o décimo ator (Mark Wahlberg, com US$ 32 milhões) ganha quase o valor da segunda atriz mais bem paga (Scarlett Johansson, com US$ 35,5 milhões). O mais bem pago? Robert Downey Jr, com 80 milhões. A mais bem paga? Jennifer Lawrence, com 52 milhões.

São discrepâncias que o mais tentam explicar, o menos fazem sentido. Eles atraem mais marketing? Talvez sim, talvez não. Elas atraem mais marketing? Talvez sim, talvez não. Mas já passamos da hora de rever os critérios mirabolantes (e nonsenses) que levam a essas decisões.

Voltando ao caso Arquivo X: qual critério você, leitor(a) pode me dizer que a Gillian Anderson não atendeu, de forma a já receber de cara, um salário menor que o do David Duchovny? Ela não era homem o suficiente para ganhar bastante? Hm. O que eu sei é que todas as esferas precisam rever isso urgente, porém o comodismo e o conformismo são coisas que atrapalham bastante.

Falando da Jennifer Lawrence, em 2015 ela deu uma declaração ótima sobre o assunto, e mesmo não sendo tão fã dos trabalhos dela, ganhei respeito extra, pois é o mínimo de maturidade que eu espero de uma atriz vencedora de Oscar. O artigo onde ela fala de sexismo, opinião, diferença de salários é incrível, e mudou a minha vida. Mesmo. Até citei ele na retrospectiva 2015, pois se o tom dos meus textos mudou, foi graças a isso aqui:
Para mim ja chega de tentar encontrar o jeito ‘adorável’ de expressar minha opinião e ainda ser gostável! F*da-se isso!
(Simples, sincero e direto)

Resumindo: se as diferenças de salários (entre tantas outras) entre homens e mulheres vão deixar de existir?

I want to believe.