Quanto tempo a informação dura até ficar velha? Trinta minutos, uma hora? A grande verdade é que na velocidade em que anda passando a vida moderna, até mesmo as bandas estão enfrentando o desafio de se adaptar e cativar a atenção do "consumidor", porque convenhamos, somos todos fãs da arte, mas no fim do dia somos consumidores também. O Toto, felizmente, mostrou com o novo álbum, Toto XIV, que se adaptou muito bem a nova era.



Por que ouvir Toto XIV?
Porque é uma experiência quase que "espiritual" e muito elegante. Toto XIV é o tipo de álbum que não tem idade nem gênero musical obrigatório, se você tiver bom gosto musical, já é o suficiente para se apaixonar. Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, os acostumados com música mais pesada ou os mais impacientes vão ter dificuldade em ouvir o álbum pelo simples fato de que ele faz você parar. E essa foi a melhor coisa que podia ter me acontecido.

Fiquei interessada a medida que saíram alguns aúdios e vídeo que surgiram no Listão de lançamentos, porque eu na maior inocência "quis agregar conteúdo". Mas, na hora de ouvir o álbum completo eu senti muita resistência, porque eu queria algo mais rápido e mais pesado, e mesmo sabendo que essa não é a praia do Toto o meu subconsciente continou insistindo. Burro. Toto XIV tem a energia digna de uma banda que está há 40 anos na estrada e já prestou serviço a humanidade, vi e fez muita coisa, então para quê correr? Para quê gritar e berrar?

Ao longo de 40 anos a banda construiu o seu legado, e provou porque é um dos maiores nomes do rock e do rock progressivo. Ponto. Em 2015 a banda já não tem mais nada a provar para ninguém. Sò que mesmo assim eles não ficaram montados nas costas do passado, acomodados, ou se deixaram ser esquecidos, e ao invés disso oferecem um momento de calma, música e arte, que faz você respirar a medida que o álbum flui. Tudo isso em grande parte por "culpa" das harmonias das músicas.


O uso e abuso das harmonias (e a gente agradece)
Esse elemento é conhecido no som do Toto e por causa dele eu adoro "I'll Be Over You", porém ter a chance de entrar em contato com ele num álbum completo me deixou encantada. Não teve como ficar indiferente, mesmo que o stress ande me levando na direção de bandas feito The Agonist, Kataklysm ou Five Finger Death Punch. Joseph Williams & cia fazem um trabalho incrível na combinação de vozes, sempre linda, afinada, ninguém erra o tempo e quando todos cantam juntos você sorri involuntariamente.

Combinações assim lembram muito o MPB4, que aqui no Brasil sempre foi referência em harmonia. E da mesma forma que eles usavam e abusavam das vozes assim faz o Toto, que tem consciência de quem é, tem confiança no som que faz e que faz muito bem, obrigado. Toto XIV é de longe um dos álbuns mais melódicos e acessíveis da banda, com guitarras que não ficam ausentes, mas que ao invés disso, aparecem na hora certa, não quebrando a atmosfera, nem deixando o som tedioso.

Quanto a bateria, nada a reclamar. Keith Carlock assumiu o posto de Simon Phillips, que havia substituído baterista original, Jeff Porcaro, falecido em 1992. E o cara tem a experiência de trabalhar com gente feito Diana Ross, Rascal Flatts e Sting (que eu adoro), então não era de se esperar que a qualidade não caísse como não caiu. Ele dita um bom ritmo, sempre animado.

Agora o que eu mais gostei foram os teclados, super progressivos como manda o figurino. Ele tem um papel fundamental na construção do elemento bombástico de "Burn" (que eu explico abaixo), e que rouba a cena no começo de "Chinatown", que tem elementos com selo Toto de identidade (como a explosão pré-refrão) e que surpreende por ser tão gostosa de ouvir. E para não ficar com "cheiro de nafetalina", a banda reflete sobre a época em que vive através de letras feito "Running Out of Time," "Unknown Soldier," e "21st Century Blues."


Destaques
Burn: o começo calmo e educado não prepara você para a surpresa surpresa da música. Ou prepara, mas é enganando na melhor das intenções de fazer efeito surpresa com um refrão bombástico. A sonoridade da bateria cresce absurdamente, acrescentando um feeling épico, e a partir dos 3 minutos a música embala de uma forma que eu desafio você a não querer cantarolar.

Holy War: essa já é mais animadinha e até meio dançante, eu arrisco. É outra com refrão pegajoso, guitarras mais evidentes e a segunda performance vocal que eu mais gosto em todo o álbum. Nunca uma música sobre o fim do mundo foi tão divertida de ouvir. Também adoro a paradinha na casa dos 04:05mins.

Orphan: agora sim, a melhor performance vocal do álbum, até porque a música é muito calcada nas vozes. É tudo lindo, sem erros, principalmente no começo que é quase 100% só voz. Depois da primeira passagem pelo refrão a música ganha ritmo e vai nele até o final, com boas linhas de baixo aparecendo e mandando uma mensagem sobre esperança e confiança nas pessoas.


Conclusão
Não bastando o show de técnica e elegância que o Toto dá ao longo de 10 faixas, ainda tem o encerramento sensacional com "Great Expectations", que ficou perfeita como última música, cheia de nuances progressivas e uma introdução de respeito. E um show da bateria. Assim termina uma viagem que tal como eu falei, leva você num universo de calma, arte e música, desligando do mundo por 56 minutos muito bem-vindos.

Vivendo num tempo onde nós estamos "correndo contra o tempo" (como bem diz a faixa de abertura), é difícil ter paciência para qualquer coisa, por pior ou melhor que seja. É normal, mas não é certo e nem justo, porque álbuns como o Toto XIV mesmo sendo acessíveis, precisam de atenção para você digerir eles do jeito certo: respirando e esquecendo da vida. As 11 músicas tiram o peso do stress fácil, e mostram que o som do Toto tem um pé no clássico, mas um pé no atual.


Tracklist
1. Running Out of Time
2. Burn
3. Holy War
4. 21st Century Blues
5. Orphan
6. Unknown Soldier (For Jeffrey)
7. The Little Things
8. Chinatown
9. All the Tears That Shine
10. Fortune
11. Great Expectations


Formação
Steve Lukather – vocais, guitrra, baixo nas faixas 5, 6 e 11
Joseph Williams – vocais principais, teclados nas faixas 5 e 11
David Paich – vocais, teclados, contrabaixo na faixa 9
Steve Porcaro – vocais, teclados
Keith Carlock – bateria, back vocais na faixa 2