Responda rápido: pra você, qual é a função da música? Uma série de respostas vão passar pela sua cabeça, mas para o Sonata Arctica só uma delas é especial: tornar o mundo um lugar rico em emoções que fazem o ouvinte acreditar na beleza das coisas simples da vida.


É exagerado, mas Pariah's Child sustenta o argumento.


O novo álbum revive o talento dos finlandeses em registrar a essência das emoções humanas em letras com sentimento, alegria, um toque de reflexão, junto de melodias bem trabalhadas e envolventes, e uma produção que faz você imergir no trabalho, afinal, não daria pra esperar menos vindo da Meca do Heavy Metal.


Tudo de mais bobo e chiclete você encontra: palmas, corais com nuances de Queen, risadas, guitarras agradáveis de ouvir, com riffs empolgados, teclados e efeitos que evocam a atmosfera mágica que leva de volta à Dezembro. E essa foi uma ótima sacada, pois se por um lado um lançamento projetado para o fim do ano teria sido interessante, a magia natalina fora de época surpreende e põe um sorriso no rosto.


Mas é na interpretação que as músicas tem o maior trunfo. Tony Kakko já está quase na casa dos 40 (!!), mas tem mantido a voz inteira ao longo dos anos, mesmo com as variações no estilo. Em Pariah's Child, especialmente, o vocalista acrescenta uma carga emocional incontável na maneira como canta cada música, com maneirismos teatrais muito bem-vindos.


Tal como o próprio disse na entrevista que fizemos, o seu apego ao mundo real como fonte de inspiração é muito grande, um contraste interessante para o cenário atual, marcado pela febre do fantástico e da ficção, recursos válidos, mas também muito arriscados.


Não que um disco sobre piratas e dragões seja ruim. Veja, eu gosto de DragonForce, Amorphis, e tantas outras bandas que se apoiam no recurso da fantasia, mas existem momentos em que é preciso ouvir algo que mantenha os meus pés no chão, e que traduza a minha tristeza ou a minha alegria da maneira mais literal possível.


Se você compartilha do pensamento, boa notícia: Pariah's Child faz isso com sucesso.


Destaques

Cloud Factory: o segundo single vai animar os shows do Sonata durante um bom tempo. Aqui quem se destaca são os back vocais que dão a sensação de ser uma música ao vivo, por conta da energia que eles acrescentam. O refrão é tiro e queda pra aprender depois de ouvir poucas vezes.


Half a Marathon Man: a pegada é mais puxada pro heavy e tem elementos que apareceram em "Stones Grow Her Name." É uma música divertida e positiva, cuja letra motivacional faz você sorrir imediatamente.


Larger Than Life*: com uma reflexão sobre a beleza e complexidade da vida a banda encerra o disco, em 10 minutos de viagem com orquestrações cinematográficas, corais, piano, e a melhor performance vocal de Tony Kakko em Pariah's Child. Um encerramento de respeito.

* faixa favorita


Conclusão

Pariah's Child está acima do estágio de álbum. Eu diria que se compara mais a uma experiência emocional, e uma das melhores desde "Unia". O Sonata Arctica consegue se manter nos trilhos do som que tem feito nos últimos discos, porém consegue resgatar a aura tão especial dos primeiros lançamentos, a aura que ajudou a banda a se tornar o que ela é.

Em tempos onde as bandas clássicas do metal finlandês derraparam aqui e ali por uma série de motivos, é bom ver que esses finlandeses sobreviveram.


Formação

Tommy Portimo – bateria
Tony Kakko – vocais, teclados
Henrik Klingenberg – teclados, backing vocal, keytar,
Elias Viljanen – guitarras, backing vocal
Pasi Kauppinen - baixo


Tracklist

NOVIDADE: ouça os álbuns do "Resenhando" através do Spotify! Clique aqui e saiba mais.