Acabou o Rock In Rio.

Resta agora a sensação de quero mais por conta de muita coisa, e quero menos por conta de outras. Sites fazem e farão resenhas, apanhados, saldos dos shows, mostrarão momentos e dão seus dois centavos sobre os cinco dias de música que vivemos dentro e fora da Cidade do Rock. Afinal o RIR teve a capacidade de cativar o espirito até de quem não conseguiu ingresso.

Eu sei porque eu não estava lá.


Não é surpresa, mas é bom ressaltar: o Rock In Rio nunca foi trevoso por essência. Na primeira edição em 1985 contou com a presença do excelente Kid Abelha, rock pegajoso, leve e maricas (dirão os radicais) feito pela banda de Paula Toller, aquela que esqueceu de envelhecer.

Gosto muito de Kid Abelha. Odeiem-me por isso.

Sendo assim vejo graça na reclamação dos headbangers, grosseiros ao falar de bandas como Muse e Florence + The Machine, facilmente entre as melhores do cenário musical de hoje, um fato que pode ser descoberto com uma pesquisa de 15 minutos ou menos no Google.

Headbanger adora criticar. É o fã música mais enjoado que existe. Critica aos outros e critica até mesmo aos irmãos de causa. Chama MPB de porcaria. Entretanto, quando ele é o alvo, foge da raia ou parte para cima a base de insultos, mandando quem o contraria ir para lugares onde não mora nenhum argumento.

Já dizia a finada Cássia Eller: não tem explicação, não tem, não tem

Listando algumas das impressões que o Rock In Rio 2013 deixou, eis que eu encontro:

A escalação melhorou
E nas duas semanas. Vimos o desfile de nomes feito 30 Seconds to Mars, Muse e Florence + The Machine, os clássicos de Bruce Springsteen e os de um desfalcado, porém esforçado Bon Jovi. Ganhamos dois dias de metal, transformando a Cidade do Rock num mar de camisas pretas por 48 horas.

Aceite: o Rock In Rio tem outro perfil
Tal como falei em 2011, o perfil de agora é bem mais parecido com festivais feito Pinkpop, que unem o pop e o rock numa mesma edição, algo interessante, desde que seja feito direito. Também falei isso na resenha que você pode ler aqui. Um exemplo quase equivalente dessa mistura temos no Festival Abril Pro Rock.

Helloween era sim um "azarão"
Foi uma escolha inusitada trazer alguém fora do eixo heavy clássico/thrash para o Rock In Rio. E funcionou bem demais, pois as Abóboras fizeram um dos shows mais sólidos do domingo, e talvez o meu favorito. Mesmo sabendo que o Maestro tocou antes. Foi como recriar -com as devidas proporções- um pedacinho do Wacken no Palco Sunset, por tamanha a quantidade de pessoas que apareceu.

Ghost
Não sei o motivo que colocou a banda no Palco Mundo, muito menos no Rock In Rio. Rezam as lendas que James Hetfield teve influência nisso, e a julgar a menção a Papa Emeritus & cia no show do Metallica eu até que acredito. Entretanto, se convidaram os suecos meramente pelo fator visual erraram friamente, pois existem alternativas igualmente visuais e com musicalidade mais adaptada a ideia do festival. Um exemplo perfeito seria o Lordi.

Agora, não vale vaiar a banda e pedir Annita. Digo isso mesmo sem ter um único motivo furado no meio pra gostar de Ghost (apesar do esforço). Sou sensata. Agora, não vale chamar de ignorante quem não gostou do show. O Ghost é a típica banda de nicho, com um público bem específico e não tão "mainstream" quanto o de outras.

Palco Sunset.. Why so zoado?
No Domingo tive a prova de que som do Palco Sunset foi implacável com todas as bandas que assisti, prejudicanteo até mesmo com o Maestro. Só que headbanger é malandro, e reclamou disso (em maioria) apenas durante a apresentação do Almah.

"Vocal ruim, fulano faria melhor"
Reclamar dos vocais de uma banda tornou-se tão comum quanto o ato de respirar. Nesse caso sou direta, e infelizmente ignorante: se é tão difícil arranjar um motivo bom para curtir essa ou aquela banda/música, não ouça. Deixe para quem gosta, e seja feliz ouvindo os seus sons favoritos.

(embora eu sei, o desejo de avacalhar a banda dos outros é irresistível)

Avenged Sevenfold e Iron Maiden  
Os americanos conseguiram superar as hostilidades. "Estou gostando da competição de coros. Vamos, continuem", Mr Shadows soltou durante o show, ao ouvir os gritos de "Maiden! Maiden!" ecoando na plateia que aguardava a Donzela de Ferro, banda para a qual o Avenged já abriu o show outras vezes.

Avenged Sevenfold e Iron Maiden 2.0
Não vi o show do Avenged Sevenfold na íntegra, assisti de Nightmare em diante. E tive uma boa impressão, embora ainda goste mais do Trivium (RISOS). Em Nightmare, em especial, fiquei surpresa com o fôlego do público, cantando a plenos pulmões e fazendo Shadows dispensar cantar versos como o famoso It's your fucking nightmare. Bem interessante de ver.

O show do Maiden por sua vez eu vi todo. Dormi pouco mais de duas da manhã. A banda trouxe todo tradicionalismo, peso e história que até os fãs de Avenged conhecem, e digo isso por conviver com pessoas que conhecem e gostam de ambas as bandas. Etretanto, o tradicionalismo abre brecha para o comodismo e a mente fechada e preconceituosa, o que no meu universo é sempre um risco.

A impressão que tive ao assistir o show pela internet é que o público não compareceu da mesma maneira. Cansaço? É plausível, pois o público havia assistido a dois shows fisicamente exigentes (Avenged e Slayer). E não bastando, também começou a garoar, o que em parte muda o clima das coisas. Se você ler este post e foi ou conhece alguém que estava lá, me conte como é que foi. 



Você que me acompanha há mais tempo sabe que eu prego a boa palavra musical a do bom senso. Viva e deixe viver. Ou morrer. Todo fã possui defeitos, entretanto, ganhar a (má) fama de velhas resmungonas não é algo que o headbanger deveria querer. Eu acho. É muito melhor se reunir em prol do nosso mesmo ideal. Disso eu tenho certeza.